A plataforma universal Microsoft e porque motivo ela pode ser preocupante.

A ideia da Microsoft é deixar de ter aparelhos separados, mas uma plataforma na qual tudo e todos os aparelhos que correm o Windows 10 se integram.

Apesar da popularidade dos sistemas operativos Microsoft, as decisões tomadas nos últimos anos tem vindo a desagradar muitos.

O Windows 10 foi apresentado muito bem e com várias vantagens, sendo até oferecido gratuitamente. Foi uma medida popular que agradou a muitos que aderiram imediatamente ao OS. Mas foi aí que a realidade não revelada começou a aparecer!

Primeiro foram as várias questões e a polêmica da privacidade com dados a serem recolhidos e enviados para a Microsoft, mesmo com todas as opções de recolha de dados desativadas, e depois a questão das publicidades que aparecem vindas no nada nos ecrãs de bloqueio, como aconteceu com ecrãs temáticos do Rise of The Tomb Raider que apareceram em alguns PCs acompanhados de um link para a Windows Store para compra.

Agora Phil Spencer veio anunciar a nova plataforma da Microsoft , a inciativa de plataforma universal, ou em Inglês, a Universal Windows Platform (UWP). O objectivo desta plataforma é a criação da unificação do PC, Xbox One, tablet e mesmo smartphones, de forma a que todas as aplicações compatíveis possam ser jogadas em todas as plataformas disponíveis (são aplicadas eventuais restrições de suporte relativas a performances mínimas necessárias).



Para alguns tal poderá parecer imediatamente apenas uma vantagem, mas no entanto a situação tem vindo a ser polémica. Mais uma vez a comunicação da Microsoft falha em todos os sentidos e mesmo os seus parceiros, mesmo alguns bastante importantes, não foram a seu devido tempo, informados sobre a realidade da plataforma. Tal foi o caso da Epic, a criadora do motor Unreal Engine que veio a público pela boca de Tim Sweeney, criticar a Microsoft acusando-a de estar a realizar uma das movimentações mais agressivas de sempre com o intuito de criar um eco sistema e monopólio dos videojogos na sua plataforma, solicitando que os criadores de software e gamers se unam contra o movimento.

Uma situação que se veio a revelar precipitada pois apesar de ser criticável o facto de a Microsoft não tenha informado os seus parceiros, também é criticável que estes passem ao ataque sem saberem pormenores exactos.

Phil Spencer veio entretanto referir que a nova plataforma irá criar um novo ecosistema, mas que este será totalmente aberto e acessível a todos os criadores e suportado por todas as lojas do mercado, acalmando assim a Epic. Até porque sendo Phil uma pessoa extremamente integra, não há porque duvidar da sua palavra!

Mas o que sabemos afinal sobre a UWP? Bem, a Microsoft explica tudo numa página que denominou de “what is this thing”, e que inclui informação fulcral para os criadores.

A plataforma opera com uma compatibilidade comum para todos os aparelhos suportados. Há uma única loja, um único API e um interface adaptável aos vários aparelhos que se ajusta a nível de escala, forma e mesmo tipo de input, garantindo que a funcionalidade não é comprometida.

Mas a plataforma exige algumas especificidades, ou seja, o jogo/aplicação terá de ser criada seguindo as regras de programação da plataforma. Isso significa que os programadores deixam de programar para as especificações do hardware onde querem ver o seu produto, mas sim para as especificações da plataforma, perdendo assim as optimizações específicas de cada aparelho (note-se que os titulos atuais apenas possuem perdas do lado do PC uma vez que as versões XBox one continuam optimizadas, mas essa seria uma tendencia a perder-se pois tal invalida todo o princípio da plataforma). As linguagens suportadas são o C++, Win32 e Javascript.



Como grande polêmica, a esperada ponte que existiria com o Android foi colocada de lado, mas a versão equivalente que fará o mesmo com o iOS não. E esta situação vem levantar questões sobre a “abertura e acessibilidade a todos” que efectivamente, segundo Phil Spencer, a plataforma da Microsoft terá.

Mas após esta introdução, vamos ao que nos interessa aqui para este artigo, os benefícios e situações prejudiciais para jogos.

A Microsoft pretende que esta plataforma seja o início do seu novo ecosistema de PC Gaming, e daí a sua intenção de colocar os jogos no Windows 10 que irão inevitavelmente levar a que estes sejam colocados na sua Windows Store.

O grande problema desta situação é que o API é universal, e isso quer dizer que as aplicações são DirectX 12 ou nada. E isso é uma imposição e um limite na programação, especialmente agora que o Vulkan está a caminho e se pretende tornar um API universal. Ao se impor o framework da UWP, há não só limites à forma como se programa e tipo de suporte que se pode dar ao hardware (que passa a ser encarado como genérico e não específico), mas igualmente à liberdade que um programa pode ter com o suporte de outros ou mesmo vários APIs. Tal é uma limitação ao uso e performance do hardware e software imposta à comunidade gaming PC que nunca existiu até hoje, e como tal algo que deveria preocupar todos os Gamers de PC e mesmo de outras plataformas.

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Atualmente apenas a Windows Store suporta o UWP. No entanto, o Steam, uPlay, Origin e outros como o GOG todos permitem downloads para o computador de forma muito mais eficiente do que aquela que é suportada pela Windows Store.  O problema é que segundo a coisa está descrita, pelo menos para já, pelo que se parece entender, mesmo que estas lojas venham a suportar estas aplicações, a forma como esta está a funcionar implica que todos os pedidos acabem por ser canalizados para a plataforma universal do Windows e consequentemente a Windows Store, para aprovação, fornecendo um controlo à Microsoft.

Resumidamente, mesmo que expostos precipitadamente, os receios de Tim Sweeney parecem ter razão para existir pois as restantes lojas seriam apenas fachadas para a Windows Store que seria quem continuaria a vender tudo, levando a sua quota no lucro.

E o facto de isto estar a acontecer quando todos sabemos que o Windows é a plataforma dominante do Gaming acaba efectivamente por ser um avanço arrojado da Microsoft com algo embutido para uso próprio no seu sistema operativo, e que foi colocado de forma acelerada nas casas das pessoas sob a forma de oferta.

Esta plataforma a funcionar assim garantiria à Microsoft uma fatia de todas as vendas quer para a Xbox One, quer para o PC, independentemente de poder deixar outras lojas de videojogos continuarem a vender estes produtos, suportando igualmente a sua plataforma. É no fundo realmente uma aparente uma intromissão imposta para alterar o Gaming não só na Xbox, mas igualmente no PC que necessita de ser esclarecida.

Com a Xbox One atrás da PS4 e o Steam a dominar o mercado PC, esta jogada da Microsoft juntaria os dois mundos e permitiria ir buscar dinheiro a todos os Gamers que existem nas suas plataformas.



Apesar de tudo o conceito por detrás desta plataforma ser uma ideia fantástica, tudo parece apontar para as queixas da Epic terem razão de existirem pois parece haver aqui uma aparente postura de domínio e de controlo dos aparelhos dos consumidores que parece inaceitável. Apesar de nada poder parecer melhor que poder jogar um jogo na consola, no PC ou mesmo poder continuar no tablet, a plataforma coloca uma tremenda dose de controlo e limitação de optimizações sobre o OS que antes não existia.

Juntemos a isto as constantes contradições da Microsoft, as palavras de Phil Spencer sobre a liberdade e alterações futuras ao ecosistema já não chegam para acalmar seja quem for. Há que se apresentar dados concretos e acções que ainda ninguém viu!

Daí que o sucesso desta plataforma não esteja nas suas virtudes ou defeitos, mas sim na aceitação de imposições e controlos pela Microsoft nas máquinas dos consumidores. E se tal até pode acontecer, com a Microsoft a conseguir impor o seu produto sem o corrigir, com o Vulkan a ser universal, se outras plataformas começarem a apresentar os mesmos jogos sem as limitações impostas pela plataforma UWP, os gamers poderão começar a fugir para outros sistemas operativos.

Daí que perante aquilo que existe actualmente esta é uma jogada arriscada a Microsoft. Não só mexe com a sua imagem junto do consumidor, mas com os parceiros igualmente…A Microsoft tem forçosamente de explicar os planos presentes e futuros da plataforma de forma clara e não andar aqui com meias palavras pois a toda a envolvente a esta situação está a criar um descontentamento crescente em parte da comunidade.



Queixa de Tim Sweeney

Queixa dos utilizadores PC face às restrições do UWP

Queixa dos utilizadores PC sobre as apps universais

Queixa sobre as limitações na versão UWP de Rise of the Tomb Raider e não existentes na versão normal.

Apenas como referência eis algumas das limitações atuais dos jogos da Windows Store:



  • Sem suporte por drivers de SLI ou CrossFire. O suporte pode existir, mas o jogo tem de o suportar especificamente e não pode ser acrescentado por via de perfil nas drivers.
  • VSync sempre ligado: Elimina o screen tearing mas cria input lag descendo a performance do jogo.
  • Sempre em modo janela sem bordas de ecrã total. Impede o acesso exclusivo à placa gráfica impedindo a performance total da mesma
  • Sem acesso a mods: As aplicações da Windows Store são protegidas pelo que mexer nos ficheiros do jogo é impossível, impedindo assim modificações, alterações ou mesmo afinações.
  • Sem ficheiro .exe e sem suporte de controladores como o do Steam.
  • Sem capacidade de Overlay: Nada pode ser sobreposto à imagem do jogo pelo que softwares como por exemplo o Fraps não funcionam.
  • Macros de rato e teclado não funcionam. E as estes periféricos customizados dos gamers PC ficam inutilizados.

Leitura recomendada – http://venturebeat.com/2016/03/10/epics-tim-sweeney-heres-how-to-keep-windows-an-open-platform/



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