Com a Scorpio, a Microsoft volta às raízes.

A Xbox One foi um espalhanço da Microsoft em todos os aspectos, mas com a Scorpio a Microsoft parece finalmente ter tomado um rumo, e volta às raízes que fizeram da 360 uma consola tão forte.

A Xbox 360 era uma consola… HARDCORE! Criada para o jogador hardcore, ela pouco ou nada tinha de casual.

Mas tal não foi sempre assim. Efectivamente, já em 2010, quando perante o sucesso da Wii e os seus jogos casuais, a Microsoft resolveu tentar alcançar igualmente um pouco desse mercado e lançou o Kinect. Mas a verdade é que, apesar de algum entusiasmo inicial com o Kinect como novidade, a Xbox 360 nunca se virou para aí, e o sucesso deste periférico foi apenas pontual, sendo que a consola nunca foi olhada como casual.

A questão é que a Wii com os seus jogos casuais, vendeu 100 milhões… e a Microsoft nunca desistiu de querer tirar partido desse sucesso! Aliás, em 2013 a Microsoft estava tão obcecada com o ganhar mercados que os tentou apanhar todos de uma vez. E quando lançou a Xbox One, a mesma acabou por sofrer com a falta de rumo devidamente direcionado da empresa.

A Xbox One foi apresentada como um tudo em um. Era um centro multimédia, era uma consola onde se podia ver TV, uma consola que teria associações com canais desportivos e onde os seus possuidores poderiam sobrepor dados estatísticos sobre a imagem da TV, era uma consola virada para as séries, incluindo algumas séries que a Microsoft se propunha produzir, era uma consola que teria suporte para gravação video, uma consola com leitor de Blu-Ray, uma consola com video conferência, uma consola que poderia substituir uma set top box, uma consola com suporte para o Kinect com jogos casuais, uma consola com comandos de voz, uma consola integrada com a Cloud, uma consola com isto, com aquilo, e com tudo o resto.



Onde a Microsoft falhou no meio de tudo isto foi em apresentar a consola como aquilo que todos esperavam que ela fosse. Uma consola dedicada a jogos e aos jogadores mais harcore. Tal como a 360!

E os resultados, associados a políticas de DRM, foram sendo vistos. Ao ponto de a Microsoft ter de remodelar todo o conceito da consola, cancelar 90% das promessas, substituir a direcção da divisão, e fazer sabe-se lá mais o quê para que a divisão Xbox subsistisse.

A Xbox One foi um espalhanço, e apesar de liderança de Phil Spencer lhe ter dado um rumo, mesmo aí ainda houve muita decisão pouco orientada e provavelmente tomada como consequência das más decisões do passado.

Mas eis que agora surge a Scorpio… a nova consola de meio de geração da Microsoft. E o que vemos?

A Microsoft corrige a mão, dá uma volta de 180 graus no conceito original da Xbox One, e regressa às origens de forma clara!

A Scorpio não se propõem ser um tudo em um, não se propõem integrar com a TV (apesar de manter o HDMI IN, o que diga-se é uma mais valia dado o número limitado de portas da maior parte das TVs), e não se propõem a ser um certo de entretenimento (Sim há lá funções de entretenimento, mas desta vez elas são encaradas como meros extras, tal e qual como acontecia com a 360)! Diga-se aliás que a única coisa que ela se propõem de forma séria, é em ser uma consola hardcore para os jogadores mais exigentes. Aqui a ideia é ser uma máquina poderosa para quem quer gráficos de topo e está disposto a pagar por eles. Uma máquina capaz de oferecer o mesmo que o PC oferece nos jogos Xbox, mas no formato consola, e a um preço mais acessível.



E nesse aspecto não só o hardware escolhido comprova isso mesmo, como a remoção da porta Kinect tambem mostra que a Microsoft coloca mesmo de lado a ideia do casual como componente fulcral na sua nova consola.

Naturalmente a mesma pode suportar jogos casuais, como qualquer uma pode, mas deixa de ter suporte a situações pensadas de raiz para eles. É um regresso ao conceito da Xbox 360.

Mas apesar de tal, tambem é certo que este tipo de situações, como consolas de meio de geração não são bem vistas por muitos. Eu pessoalmente sou uma dessas pessoas! Não só não aprecio o conceito, como preferia que ele não existisse! Abomino-o mesmo!

Para além do mais, não vejo nos 4K uma mais valia. Tendo passado pela evolução do PC, foi notória a evolução gráfica quando se passou dos 320×200 para os 640×480. No entanto a passagem para os 800×600, apesar de interessante era dúbia. Entre o ganho de resolução ou a possibilidade de melhorar a qualidade do grafismo e fotogramas a 640×480, a segunda hipotese era muitas vezes preferível.

E o mesmo aconteceu quando da passagem dos 800×600 para os 1024*768 e dos 1024*768 para os 1280×720. Os ganhos de resolução eram visíveis, mas a resolução inferior trazia outras vantagens que por vezes eram preferíveis, especialmente no caso dos 720p onde a passagem do formato de ecrã dos 4:3 para os 16:9 não era algo acessível a todos.



Atualmente a coisa atingiu um patamar onde a vantagem da subida de resolução é cada vez mais dúbia. É que passar dos 1080p para os 4K não é algo que seja perfeitamente visível uma vez que, ao contrário dos monitores, não estamos a 1 m de distância do ecrã. E aqui, dependendo da distância de visualização e do tamanho do ecrã, optar entre um aumento de 4x a resolução ou 4x a qualidade gráfica, a última opção parece muito mais atractiva.

Nesse sentido, estas consolas de meio de geração que se propõem trazer os jogos para resoluções superiores não soam, pelo menos nesta fase, como uma proposta de elevado interesse, especialmente não vindo munidas de um HDMI 2.1 que tire partido da resolução 4K na sua plenitude. Leiam este artigo se querem perceber o porque!

Agora a realidade é só uma. Mesmo não se olhando para estas consolas de meio de geração com bons olhos, elas existem, e aqui, perante a realidade podemos encarar a coisa de duas formas, aceitando-as, ou sendo um revoltado contra o assunto. Mas não podemos fazer estas consolas desaparecer! Daí que a revolta seja um pouco inglória uma vez que sabendo-se que o mundo irá aceitar a sua existência, a mesma não nos traga vantagem nenhuma.

Para além do mais, a Scorpio é uma consola muito bem pensada. Uma consola que, agora que vemos as suas especificações, se percebe que foi criada com duas intenções, a de levar os jogos Xbox One aos 4K, e a de ser uma consola base para uma futura Xbox Two. E nesse aspecto, a consola equivalente da Sony, a PS4 Pro, não está igualmente colocada.

Um roadmap da AMD até 2020 mostra que as placas 24 Tflops poderão ser uma realidade até lá. Mas caso pudesse surgir uma consola com esse hardware a questão seria: A que preço?



E mesmo que tal seja possível, 24 Tflops é apenas 4 vezes mais do que a Scorpio oferece. E 4K tambem é exactamente 4x mais do que 1080p. E isso quer dizer que a Microsoft posicionou a sua consola de forma a que, mesmo que a 1080p, que em 2020 deverá a ser a resolução mais comum, a mesma consiga acompanhar uma possível futura consola. Aliás terá sido nesse sentido que acrescentou as optimizações ao CPU Jaguar, criando ali um CPU de capacidades igualmente intermédias, e acreditando que até lá o GPU compute estará mais evoluído com a dependência do CPU a ser bem menor. Basta ver que se tem falado muito que Forza corre a 4K 60 fps com o nível de detalhe Ultra do PC, usando apenas 88% dos recursos do GPU da consola, mas tem sido esquecido que um PC que use o mesmo nível de detalhe está normalmente equipado de um processador i7 ou um i5 topo de gama, mostrando que o pequeno Jaguar se está igualmente a superar.

Neste aspecto a Scorpio torna-se deveras tentadora. E com uma expectável orientação da Microsoft no bom sentido, ainda mais.

Claro que ninguém pode pedir às pessoas que pura e simplesmente ponham para trás das costas 4 anos de erros e de más decisões, e essa imagem irá custar a desaparecer. Mas no entanto o rumo parece traçado no sentido de no futuro voltarmos a ter do lado da Microsoft uma empresa ao nível do que nos mostrou ser capaz de atingir com a 360. Falta apenas fornecer o suporte jogos à Xbox que deu à 360, e nesse aspecto a E3 deste ano será super relevante, pois tudo o que foi dito torna-se irrelevante se esmagado por uma elevada quantidade de jogos de qualidade de topo da concorrência. E perante um mercado com 92% de ecrãs 1080p, mostrar imagens com um mero aumento de resolução para 4K não serve de nada.

Esperemos que a Microsoft não desiluda… porque a Scorpio apenas nos fornece uma orientação, mas o caminho há ainda que ser trilhado, e a Microsoft nos últimos tempos tem tido muita tendência a não andar em linha reta.

 





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