Será aceitável que um jogo saia com problemas que só são resolvidos vários anos depois?

A questão base é: Deverá um jogo estar completo e 100% funcional no seu lançamento, ou é aceitável que o mesmo só atinja o seu potencial quatro anos após o seu lançamento?

Um artigo recente do Kotaku com o título “O master Chief Collection é o que acontece quando um estúdio não desiste de um jogo” exalta o facto de a 343 Industries não ter largado o jogo lançado em 2014, tendo-o corrigido, e estando este atualmente no seu pleno potencial.

Ora apesar de, naturalmente, achar essa atitude da 343 Industries louvável, a realidade é que, não se pode considerar aceitável que um jogo só atinja aquilo que poderia e deveria ter sido no seu lançamento, ou janela de lançamento, quatro anos depois.

A realidade é que Halo MCC foi lançado em 2014, e com uma grande quantidade de problemas. Basicamente, e como a Kotaku escreve como experiência real e vivida, no seu lançamento o jogo obrigava os jogadores a esperas de 30 minutos antes de conseguirem arranjar um jogo. Isto devido a problemas com o motor de matchmaking!

Os problemas foram imediatamente reconhecidos, mas a realidade é que não foram corrigidos em tempo útil, e várias soluções, todas elas incompletas ou imperfeitas, foram lançadas, sem que resolvessem os problemas.



Os patches foram saindo, mas acrescentando bugs novas e mesmo crashes, sendo que após duas semanas de patches o jogo estava ainda cheio de problemas.

No entretanto após novos patches, os tempos de espera médios melhoraram, mesmo que ainda se mantendo altos e nem todos percepcionarem esses resultados. Acontecia também que no final dos jogos as equipas eram separadas e todos iam novamente para filas de espera.

Em Dezembro, a própria responsável pela 343 Industries, Bonnie Ross escrevia uma carta aos fans, onde descrevia a experiência como “humilhante”, e agradecendo a paciência dos fans oferecendo um mês gratuito deo Xbox Live Gold, e um avatar e uma chapa com o nome para o jogo, exclusivas, bem como conteúdo gratuito futuro, tal como novos mapas.

Mas mesmo assim o jogo estava longe de ficar corrigido, e em Janeiro de 2015 foi feito um beta test para resolver os problemas.

Usando as próprias palavras do Kotaku, ao fim de 100 dias a parte multijogador estava apenas moderadamente melhorada, mas mesmo assim inaceitável. As equipas eram desfeitas, e alguns tiros não eram registados em jogos de Halo 1 e 2, para além dos problemas de conectividade existirem em número muito acima da média.

Em Março, Abril e Maio de 2015 o jogo teve novas actualizações, que acrescentavam melhorias e eliminavam bugs de que os jogadores se queixavam como danos inexistentes ou danos duplos.



Infelizmente a situação arrastou-se e foi no outono de 2017 que a 343 Industries resolveu anunciar que ia arrumar a casa, e renovar a arquitectura multijogador do jogo com uma Beta que iniciaria em 2018. Basicamente o jogo ia ser refeito.

Foi no versão de 2018 que um patch de 73 GB saiu e resolveu os problemas todos, tornando Halo MCC, naquilo que deveria ter sido quando foi lançado em 2014.

Ora a realidade é que todos temos de aceitar que as bugs existem. Todos temos de aceitar que nem sempre são fáceis de resolver. E todos temos de aceitar que nenhum jogo está livre delas e que elas até podem persistir.

O que já não é verdadeiramente de se aceitar é um artigo como este da Kotaku que parece elogiar a persistência da 343 Industries em resolver o problema, resolvendo-o quatro anos depois do lançamento do jogo.

Sim, insisto, que é uma atitude meritória. Mas longe de ser elogiável! Elogiável seria o jogo ou ter saído sem problemas, tendo uma fase de testes em condições antes de ser lançado, ou este ter visto os problemas resolvidos num período que se pudesse considerar aceitável, tal como o primeiro ano da sua existência. Tal não impediria as criticas, pois parece apenas justo que quando alguém paga 70 euros por um jogo o queira funcional na data de compra e não apenas passado um ano, mas um ano, apesar de não desejável, é o máximo dos máximos que nos parece tolerável para uma correcção a 100%. Quando as coisas passam acima disso, podemos considerar meritória a atuação da empresa em querer corrigir os problemas, mas não creio que escrever artigos sobre o assunto soe bem. Tal acaba por ser uma espécie de elogio a uma persistência de um problema por um período de tempo que se considera inaceitável.



Este tipo de situações e aparente reconhecimento e agradecimento por algo que não deveria acontecer mostra uma submissão inaceitável do cliente. Este tem o DIREITO de ter o produto funcional, e este tipo de reconhecimento quase parece um agradecimento à empresa por ter feito, fora de tempo aceitável, aquilo que lhe competia, que era dar o produto em condições ao cliente.

Notem que aqui a critica não é feita à 343 Industries, ou sequer ao jogo em si. Ela não é a única a ter jogos com problemas, e nem este é o único jogo que sofre de problemas de rede, e infelizmente isso acontece mais do que deveria, e em todas as plataformas. Isto é uma crítica geral à industria, quer por permitir análises com notas elevadas a jogos lançados com severos problemas e onde claramente não foram realizados testes intensivos ao mesmo, e acima de tudo, por aparecerem artigos como o da Kotaku, que quase parece elogiar a empresa por não ter desistido do jogo, resolvendo o problema ao fim de 4 anos.

Mérito? Sim. Elogiável? Não! Porque elogiável seria os problemas serem resolvidos em tempo útil.

 



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