Ubisoft quer Streaming… mas está convicta que o modelo de subscrição não permite sustentar o negocio.

Essa sempre foi a nossa convicção, apesar de empresas como a Microsoft o estarem a implementar. A realidade é que esses modelos podem funcionar em conjugação com o modelo de vendas física, mas não parecem minimamente funcionais num mundo somente de subscrições, e com largas quantidades de concorrentes. A ubisoft propõem uma alternativa bem mais coerente, que mata de vez as subscrições, mas que permite que o modelo de vendas físico, digital e de streaming todos podem viver conjugados.

Se se recordam, em tempos fizemos a comparação entre os orçamentos de jogos e filmes, e as fontes de receitas de ambos após lançamento. E o que se percebeu foi que as fontes de receita após o lançamento do produto são bem diferentes, sendo que os jogos requerem forçosamente elevadas vendas para terem lucro.

Resumindo o anteriormente referido, imaginemos um filme de 60 milhões e um jogo de 60 milhões. Apesar de custos semelhantes, o filme tem uma fonte de receita que os jogos não possuem, a exibição nas salas de cinema, e onde um filme de qualidade obtém receitas que pagam os custos de produção, podendo posteriormente entrar em sistemas de subscrição estilo Netflix, sem qualquer prejuízo.

Já os videojogos não possuem as salas de cinema. E a forma de se pagarem é vendendo largas quantidades no retalho, a 70 euros cada cópia. Entrarem em serviços de subscrição sem se terem pago antes não parece minimamente viável.

Ora eliminar as receitas das vendas, a sua maior fonte de receita, colocando um jogo mal é lançado num sistema de subscrição, onde a mensalidade é usada para pagar royalities a cada um das centenas de jogos ali presentes, levanta sérias duvidas sobre a viabilidade económica dos videojogos.



Claramente os videojogos lançados neste sistema ou necessitam de possuir monetização adicional, ou precisam de suporte constante que garanta que a base de utilizadores do serviço, e consequentemente do jogo, se mantêm. Infelizmente há aqui que se cortar nas despesas de desenvolvimento uma vez que a receita vai chegar mais espaçada no tempo e não toda de uma vez. Ou seja, uma clara necessidade de os jogos terem de passar a esquemas de lançamentos por fases, de forma a descer custos de produção.

Esta parece a lógica mais coerente e questionável sobre a viabilidade destes serviços e que nos leva a questionar como é que a Microsoft ou a EA consegue ter lucros com os seus Game Pass e EA Access, algo que só parece ser explicável nesta fase onde os serviços não só não possuem muita concorrência, como coabitam com as vendas físicas, permitindo assim, aumentar o mercado alcançado.

Mas será que este tipo de subscrições são realmente o futuro?

Ora esta duvida não só é coerente, como existe igualmente na mente dos directores da Ubisoft. Como sabemos, a Ubisoft é uma das empresas que já demonstrou todo o interesse em criar os seu próprio serviço de streaming. A questão é que, apesar do interesse, a empresa não acredita que as subscrições sejam a formula ideal de se implementar esse esquema de negócio, uma vez que tal, uma vez tornado standard, traria uma quebra de receitas enorme e, consequentemente implicações na qualidade do produzido.

Nesse sentido a Ubisoft defende algo diferente. O Streaming como um extra ao que existe atualmente. Algo que as pessoas que compravam o jogo pagariam de forma adicional para poderem ter o jogo acessível em qualquer sistema a qualquer hora (desde que houvesse internet capaz, claro).

Eis as palavras proferidas nesse sentido pelo Vice Presidente da Ubisoft, Chris Early:



Para nós é uma questão do mercado que podemos alcançar. Acreditamos que há muitas pessoas que estão dispostas a jogar os jogos que fazemos atualmente se os pudermos entregar nas mão de uma forma que eles estejam dispostos a pagar. Hoje a nossa base de 150 milhões de clientes compra os nossos jogos, e como todos aqui sabemos, temos todos amigos que deixaram de jogar jogos porque não compraram a ultima consola ou não actualizaram o seu PC, e que ainda pensam em jogos. Vimos isso num jogo que anunciamos recentemente, o Starlink, onde o Star Fox será a personagem. Houve uma demonstração espantosa de nostalgia criada na conferência de imprensa. Eles estão lá.

Há mais pessoas a falar dos jogos na cloud, e a capacidade de criarmos esse tipo de mercado, seja apoiado no serviço da Microsoft, seja no nosso. O desafio que temos é que todos esses modelos de negócio, para nós como publicador de jogos, não dão lucro. Temos de descobrir uma forma de tirar vantagem desse tipo de distribuição ou de aumentar o mercado atingível. Temos de encontrar uma forma de monetizar.

Podemos vir a adoptar um serviço de subscrição. Seja como for, o desafio reaparece, há alguma maneira de podermos tirar benefícios do Cloud Gaming, extrair daí o conceito de subscrição, ou descobrir uma maneira de se fazer dinheiro com uma subscrição, sendo que nunca vimos nada em ambos os casos. Mas as pessoas estão a falar disso. Mais grandes jogadores falam disso. Há aqui alguma esperança.

Na realidade eu vejo a subscrição de jogos como inibindo o nosso progresso, e dou dois exemplos. Um com o PS Now. Penso que é uma grande tecnologia para levar o conteudo streaming para as pessoas, mas não fazemos ali dinheiro como publicador – não fazemos o mesmo dinheiro que faríamos ao colocar os jogos à venda. Daí que do ponto de vista de um publicador, porque motivo sequer nos incomodarmos?

A tecnologia é excelente para o jogador. Posso jogar qualquer coisa, em qualquer sitio, instantaneamente! É uma tecnologia fantástica, que é inibida pelo modelo de negócio. Cobrem um extra ao PSN Plus para fazer o stream de jogos que possuem para aparelhos que possuam. Isso é que seria um grande serviço ao jogador. Iriamos ver mais pessoas a adoptar o conceito de streaming em mais lugares. E poderemos chegar a um lugar onde teremos mais pessoas focadas no streaming.

Há um desafio similar com o nosso modelo de negócio. Nós vemos que funciona. Acreditamos nele. Vocês capam-no com uma plano de subscrição e nós, publicadores, não conseguimos fazer dinheiro. Por outro lado, podemos apenas vender o jogo e deixar as pessoas ter uma experiência de 5 minutos enquanto o descarrega, ou então pagar um extra para continuarem a ter acesso rápido em muitos mais lugares. Mas com a subscrição, estamos a dar o jogo.

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