A Square Enix quer NFTs nos seus jogos, quer os jogadores as queiram ou não.

Já dizia o Pai do meu primo: “Quando fores mais velho, quer queiras, quer não queiras, vais para bombeiro voluntário”.

Uma carta de Yosuka Matsuda, presidente da Square Enix, vem demonstrar como este senhor está arrogante e inamovível na sua ideia da implementação de NFTs e uso da Blockchain.

Na sua carta, este senhor debate o lugar da tecnologia num futuro de “jogo descentralizado”. Face à crescente revolta e declaração de interesses em manter os NFTs fora dos jogos dos jogadores, esta carta vai contra tudo o que os jogadores estão a querer. Aqui ela foca-se num desejo nebuloso de criar incentivos “jogar para possuir”, ignorando não só o já existente como as consequências da loucura pelas cripto.

O mais caricato da sua carta é a forma como ela se centra no entusiasmo que há dentro da Square Enix pela forma como os NFTs e a blockchain pode alcançar além dos que “JOgam pela diversão” encorajando aqueles que “jogam para contribuir”, e incentivam os jogadores a gerar conteúdo próprio.

Refere então:

Tradicionalmente o gaming nunca ofereceu qualquer incentivo explicito para este grupo de pessoas, que sempre foram apenas motivados por um sentimento pessoal de boa vontade e voluntariado. Esta facto não deixa de estar relacionado às limitações do conteúdo gerado pelos utilizadores (CGU). O CGU sempre foi trazido apenas por desejos de individuos para se auto exprimirem e não porque existisse qualquer incentivo de os recompensar pelo seu esforço criativo. Vejo isto como uma das principais razões porque nunca houve conteúdo que fosse realmente revolucionário, como seria de se esperar.

Ora o que aqui está escrito é uma total, e completa, falácia!

Para começar não é verdade que os utilizadores não sejam recompensados. Um mod para um jogo não precisa de ser gratuito, e pode perfeitamente ser vendido pelo seu criador.

A grande questão é que quando o conteúdo é realmente bom, as produtoras dos jogos, por norma, arranjam maneira de o remover, de forma a não lhes prejudicar a imagem.

Seja como for, a Square encontra-se num grupo de devs que nunca facilitou minimamente a vida a quem deseja criar conteúdo. Basicamente os seus jogos são difíceis de alterar, e aciam de tudo protegidos de forma a que a instalação de extras não seja permitida.

Ou seja, se não há conteúdo, ou pelo menos mais conteúdo, criado pelos utilizadores, não é porque estes não o queiram criar… é porque eles não deixam.

Abrir os jogos aos mods, à criação de itens cosméticos, e permitir que eles sejam vendidos nas lojas dos jogos, seria isso sim uma boa medida. E tudo isso pode acontecer sem os NFTs, sem todo o ecosistema tecnológico que envolve a blockchain, e sem os problemas ecológicos que ela gera.

Olhar para o Steam e a sua Workshop, ou o mercado de skins do CS_GO, seriam, bons exemplos de como aquilo que o Presidente da Square propõem pode ser feito sem NFTs. Mesmo a Mcrosoft permite mods em jogos Xbox.

Aqui há claramente uma postura arrogante da presidencia. Olhe-se o exemplo do jogo Stalker 2, em que os devs anunciaram a ideia de criar NFTs para ajudar a financiar o jogo. Mas a recepção que tal teve nos potenciais compradores levou a uma revolta tal que rapidamente os devs perderam a ideia.

E depois temos os exemplos de quem não desistiu da ideia, como a Ubisoft que implementou mesmo os NFTs no Ghost Recon: Wildlands. Os resultados? Nenhuns! Para além de enfurecer a comunidade, os resultados foram apenas um flop de vendas. Mesmo o Discord perdeu muitas subscrições Nitro quando o seu CEO veio referir que iriam integrar cryptos no serviço. Agora andam a correr atrás do prejuízo a tentar recuperar as assinaturas com promoções.

Às vezes parece que as empresas não jogam os seus próprios jogos quando vem questionar como podem fazer para aumentar o número de jogadores, e a piorar a coisa, esta cena dos NFTs para vender coisas… por amor de Deus… as coisas já se vendem nos jogos.

Os NFTs, e nem sequer precisamos deles pois as vendas atuais já fazem isso, estão a desenvolver uma cultura de farming temendo que cansa os jogadores. E não estando estes dispostos a pagar, afastam-se pura e simplesmente. Basicamente achar que as vendas em NFTs são a solução para um problema que é criado muitas vezes pelas vendas em si, é algo de ridículo.

Felizmente, ou infelizmente, o sucesso dos NFTs está nas mão dos gamers. Serão eles, e não os CEOs das empresas que vão decidir o seu futuro.

Conhecendo as pessoas como conheço, acredito que muitas pessoas sem consciência vão alimentar este mercado, e poderão, tal como já aconteceu no passado, criar aqui uma nova tendência que só vai servir para piorar o estado dos videojogos. Mas a esperança de que haja um pingo de inteligência que ainda resta na maior parte das pessoas, é a última a morrer. E nesse sentido, espera-se que os NFTs morram depressa.

Não se esqueçam que os NFTs dependem de uma blockchain que tem de ser processada. Algo que cria grandes consumos e desequilíbrios ambientais, mas que, acima de tudo, requer hardware ativo para ser mantida. Daí que até ao próximo passo de vos ser roubada performance nos jogos que suportam estas transações, para este processamento, vai um passo.

Recomendo a visualização do próximo PCManis Direct, onde iremos falar um pouco sobre os NFTs, e onde perceberão que ninguém, exceto os vendedores, entendem as reais vantagens deles.