Análise: Playstation Vita

Introdução

Tal como já referimos anteriormente, as consolas mais populares são algo que não analisamos da forma tradicional, com uma avaliação quantificada no final.

O motivo porque não fazemos isso prende-se com o facto de uma consola valer pelo que o software que for criado para ela ao longo dos anos for capaz de retirar do seu hardware. E um bom exemplo disso é a Nintendo DS que se fosse avaliada pelos parâmetros normais, o seu hardware, ergonomia, resolução e memória fariam dela uma consola com baixíssima avaliação. Mas no entanto, o excelente software que foi lançado ao longo dos anos para essa consola tornou-a na consola mais vendida do mundo, e inclusivamente uma das minhas favoritas.

Assim sendo, e seguindo essa lógica, neste artigo dedicado à PS Vita vamos analisar a experiência que temos tido ao longo destes dias com a mesma, tentando fazer um ponto da situação sobre aquilo que presentemente, dado o software existente e o seu actual firmware, a consola oferece ao utilizador.

A Análise

A Playstation Vita é uma nova consola portátil criada pela Sony, e inserida na sua gama de produtos lúdicos de grande sucesso, a gama PlayStation. Com esta consola a empresa Nipónica pretende quebrar com o grande fosso normalmente existente entre as performances de uma consola portátil e uma consola de mesa, e nesse sentido a empresa apresenta esta Vita como a consola portátil mais potente de sempre, e mesmo capaz de rivalizar com a PS3.



Mas será que isso é verdade? Mas mais importante ainda, independentemente de essa situação ser ou não uma realidade, o que vale efectivamente a PS Vita?

O Hardware mais potente de sempre… numa portátil

Sem querer repetir aqui todas as especificações da consola, refira-se apenas que as mesmas são impressionantes, com um processador central e um processador gráfico ambos com quatro núcleos, e com números teóricos de performances bastante impressionantes. E o mesmo pode ser dito da RAM da consola que é inclusive superior à apresentada pela PS3 e XBox 360 (512 MB RAM), ao serem incluídos aqui 512 MB de RAM + 128 MB de memória video dedicada, perfazendo um total de 640 MB de memória.

E apesar de a Sony não anunciar as velocidades de relógio dos processadores da consola, que na sua velocidade máxima efectivamente fazem mossa a uma PS3, a verdade é que o poder de processamento da Vita é actualmente, e à data da escrita deste artigo, algo sem paralelo em qualquer sistema portátil, seja ele consola, tablet ou smartphone.

Mas e no que toca à grande dúvida. É ou não a PS Vita tão potente como uma PS3?

Infelizmente não sabemos responder a isso sem serem conhecidas as velocidades de relógio do processador, pelo que avaliaremos essa situação por aquilo que nos foi possível ver com o actual software existente para a consola.



Teremos porém de referir uma nota na qual os programadores reconhecem que o hardware da PS Vita é muito fácil de explorar, e efectivamente, a sua arquitectura mais tradicional, permitem uma simplicidade de programação do hardware bastante superior à que oferece uma PS3. Queremos então dizer com isto que, apesar de o futuro poder reservar melhor exploração do hardware da consola, o actual software deverá estar já a conseguir explorar o mesmo de forma elevada, pelo que o valor comparativo de performances que vamos atirar aqui não deve alterar muito (salvo alteração das velocidades de relógio em futuros updates do firmware).

E esse número deverá andar pelos 70% a 75% (máximo), um valor impressionante para uma portátil, mas ainda assim um pedaço longe da performance total de uma PS.

Independentemente de tal, a PS Vita apresenta-se capaz de executar jogos com uma qualidade em tudo semelhante à PS3, e o facto de possuir um ecrã de 5″ com uma resolução sub-HD permitem em muitos casos diminuir ainda mais a distância entre as duas consolas.

Uma PS3 na palma da mão… ou apenas uma mão cheia de PS3

Apesar das suas capacidades impressionante e que levam os jogos da PS Vita a compararem-se aos da PS3, aquilo que deveria ser visto como a maior virtude da consola, a potência associada à portabilidade, acaba por não se revelar um trunfo assim tão impressionante.



E a culpa dessa situação deve-se às reduzidas dimensões do ecrã que quase abafa todas as virtudes da consola poder lidar com texturas complexas e grandes números de polígonos. É que com um ecrã destas dimensões, e apesar de ser maior do que o que a PSP oferecia, texturas e polígonos da qualidade que uma PS3 pode oferecer acabam perdidos e longe do olho do utilizador. Por exemplo, em FIFA 12, um jogo em tudo comparável à versão Playstation 3, o facto de os jogadores possuírem excelentes texturas nas camisolas, com os símbolos dos clubes, todos os detalhes publicitários e outros pormenores perfeitamente claros e legíveis, assim como jogadores e respectivas faces serem bastante detalhados a nível de polígonos, tudo isso perde significado quando o jogador que vemos no ecrã pouco mais possui do que 1 cm de altura, tornando todas essas virtudes de uma qualidade elevada parcialmente dispensáveis. Já numa PS3, ao se visualizar os seus jogos em ecrãs de 40″, esta é uma situação que se revela uma necessidade.

Não se julgue com isso que as boas texturas e os polígonos são algo que consideramos dispensáveis. Longe disso. Apenas que se calhar a qualidade PS3 é excessiva para um ecrã destas dimensões, e que o processamento seria melhor usado em outras situações que não pormenores que, com este ecrã, não são notórios.

Parece por isso que em jogos multi-formato não ficamos com a real noção de termos uma PS3 na mão, mas sim, e apenas, uma mão cheia de PS3, parecendo faltar qualquer coisa para se usufruir das reais capacidades da consola. E na realidade falta! Uma ligação para a TV como a PSP possuía, e que permitisse usufruir de todo o pormenor que esta consola pode oferecer, num ecrã maior.

Mas, curiosamente, já nos jogos pensados de raiz para a Vita a sensação é bem diferente, sendo aí que a nova Playstation brilha ao explorar toda a capacidade de processamento do seu hardware, bem como todas as capacidades de interacção que possui, seja pelo microfone, câmaras frontal e traseira, sensores tacteis frontal e traseiro ou pelos sendores de inclinação/movimento.

Teremos por isso de aguardar para ver o que o futuro reserva a este sistema, mas à partida, pelos motivos expostos, parece-nos que não será pela conversão directa de jogos PS3 para a PS Vita que a consola conseguirá um lugar ao sol.



Hardware poderoso, Software… nem tanto

Um dos motivos que leva os produtos da Apple a terem tanto sucesso é o facto de esta empresa não esquecer nunca que o hardware só mostra todo o seu potencial quando aliado a um bom software. E essa foi uma situação que a Sony parece ter esquecido, sendo que o actual estado do firmware da consola revela falhas imperdoáveis.

Comecemos pelos tempos de carga dos jogos que, de forma incompreensível uma vez que a consola não possui peças mecânicas e tudo é lido através de cartões de memória, são extraordináriamente altos. E esta é uma situação real seja com os cartões onde os jogos são vendidos, ou com os cartões de armazenamento interno vendidos a peso de ouro pela Sony, e que não mostram assim qualquer capacidade extraordinária de performances que justifiquem quer o seu uso em detrimento dos cartões SD, quer o seu preço quase três vezes superior.

Esta é uma situação incompreensível que se espera seja resolvida, ou pelo menos melhorada para os níveis que vemos nos tablets/smartphones, muito rapidamente.

Mas as situações deste género não se ficam por aqui. É que apesar de a Sony considerar a conectividade com a PSN como um elemento fulcral da consola, e a prova-lo está a versão 3G da mesma, as ligações à PSN deveriam ser prioritárias e processadas de forma invisível para o utilizador. Basta o excelente exemplo que temos num iPad/iPhone quando estes se conectam ao GameCenter sem que o utilizador seja perturbado, sendo apenas mostrado posteriormente um pequeno popup a comunicar as boas vindas ou o insucesso da ligação.

Mas aqui para a ligação à PSN a situação é bem diferente, sendo que tudo pára e tudo é interrompido, com grandes janelas do firmware da consola a sobreporem-se a tudo para ser realizada a conexão. E ainda por cima, a conexão é lenta, brindando sempre o utilizador com dois a três ecrãs de “Espere por favor” antes de aparecer um ultimo indicando “A conectar com a Playstation Network”, tudo isto num processo que está longe de ser realizado à velocidade desejada e que, como já referido, poderia ser feito de forma invisível e em paralelo com os tempos de carga.



Mas há mais. Lembram-se de quando a Playstation 3 foi colocada à venda com um disco rígido de 20 GB? Parece algo ridículo pensar nisso nos dias que correm uma vez que tudo que seja inferior a 160 GB esgota-se a uma velocidade alucinante, mas a Sony parece ter caído no mesmo erro de novo com a PS Vita, que possui cartões de 4, 8, 16 e 32 GB de memória, e que são vendidos a preços quase triplos dos seus equivalentes SD.

Ora como já referimos na questão dos tempos de carga, estes cartões acabam por se revelar uma decepção pois não aparentam mostrar performances que justifiquem o seu preço. Mas o pior nem é isso, mas sim o facto que, três dias de uso da PS Vita revelarem que neste momento, apesar de apenas possuir algumas demos instaladas, pouco mais de 6 GB livres possuo num cartão de 16 Gigas que custou 50 euros. É que se num Tablet encontramos jogos com dimensões que variam entre 1 MB a 1 GB, sendo a maioria na ordem dos 100 a 200 MB, na PSN os downloads em média ocupam 400 Megabytes, mostrando assim que o rendimento de armazenagem de 16 GB não é de forma alguma comparável num tablet ou nesta consola. E com cartões a este preço… ohlala, que mina de ouro.

Esta situação só vem comprovar algo que já se suspeitava. Com o actual custo por megabyte do armazenamento os downloads digitais não compensam de forma alguma face à compra da versão física do jogo. Qualquer semelhança que encontrem com poupança em descontos de 5 euros nas versões digitais, é pura ilusão.

Ora com downloads desta dimensão seria de esperar que a PSN fosse rápida. Afinal a PS Vita é um sistema alimentado a bateria, e não é uma situação desejada ter a consola a consumir a mesma durante muito tempo em situações que não sejam o usufruir das suas capacidades de jogo. Mas infelizmente mesmo aí a Sony falhou, com os downloads de demos de 500 megas a demorarem em média entre 45 a 50 minutos.

Quando a consola se ligou à rede pela primeira vez, ela efectuou um teste à minha velocidade, tendo detectado uma ligação de 25 Megabits. Ora isso é exactamente o que tenho, pelo que a medição foi perfeita, e daí que seria de esperar que a consola efectuasse downloads a 3 Megabytes/segundo, e como tal uma demo de 500 Megas demoraria perto de 3 minutos a ser obtida.



Quando se visualizou 45 minutos de tempo de espera para o término do download (que no final acabou por não ser mais de 30 minutos) assumiu-se imediatamente que algo não estaria bem. Certamente um problema com a Vita! Mas não, testadas várias consolas em vários routers o tempo de descarga manteve-se idêntico, o que significa uma de duas coisas. Os cartões de memória vendidos a peso de ouro possuem uma velocidade de escrita execrável, ou a Sony limita as velocidades da sua PSN. Seja qual for o caso, um download efectuado com a consola a consumir bateria vai obrigar a longos períodos de consumo. E mesmo que seja um consumo baixo, é sempre um consumo que podia ser evitado com um download rápido.

Outra das queixas a apontar prende-se com a ausência de um software de video conferência que explorasse a câmara frontal da PS Vita. A sua ausência é uma grande lacuna, mas muito certamente a Sony deverá vir a apresentar futuramente algo para suprimir a mesma.

Mas o ponto mais fraco de toda a consola é o seu Browser. E aqui a Sony tinha feito um favor a si mesma se pura e simplesmente o tivesse removido.

Mas quanto a isso nem vamos falar, e vamos deixar que os vídeos de baixo falem por sí próprios demonstrando tudo o que referimos aqui. E nesses vídeos vemos as coisas como são possíveis de se fazer de forma perfeita (com um iPad), e como se faz terrivelmente mal (com a PS Vita). O iPad possui 512 MB RAM, a PS Vita 640 MB, e a capacidade de processamento da PS Vita é cerca do dobro da do iPad2.





Conclusões

Como consola portátil a PS Vita não tem igual, mas no entanto, e apesar da sua potencia de processamento, acreditamos que o futuro desta consola está nas aplicações que tiram partido das suas potencialidades, mas não se limitam a converter algo existente na PS3. A conversão poderá e deverá existir, mas as características únicas da consola necessitam de ser exploradas. Não se quer dizer com isto que os bons jogos da PS3 não sejam bem vindos, apenas que a conversão não deverá ser vista como a única forma de se explorar esta consola.

Como consola a Vita é absolutamente fantástica, com um grafismo e uma capacidade de processamento de abismar, sendo que é nas restantes vertentes que pretende explorar que a consola falha tremendamente. Acreditamos que futuras versões do firmware venham a melhorar toda a situação, mas tal como está, esqueçam o que a Vita vos pode oferecer para além dos jogos.

E acima de tudo a Sony tem de diminuir os tempos de espera entre o carregar no icone e o jogo efectivo. É que simplesmente os tempos de carga são exagerados ao máximo.

Se a Vita vai ser um sucesso ou não, só o futuro o poderá dizer. Para já há arestas a polir, e é bom que tal seja feito rapidamente.



Esperem mais artigos nossos sobre esta consola que a analisam sobre outras vertentes.



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