Consolas – o fim de uma era! O início de outra.

Desde o seu aparecimento que o termo consola significa um hardware com um longo período de vida. Mas os tempos mudam, e a evolução do hardware avança a um ritmo onde isso deixa de ser possível.

NOTA: Todo o artigo que se segue baseia-se nas especificações e regras que foram dadas a conhecer por um insider e relativas à nova Playstation Neo. A realidade dos factos, caso seja diferente da referida, poderá alterar a posição e interpretação dos factos de seguida indicados.

As consolas estão connosco à umas largas dezenas de anos, e isso foi sempre possível graças à evolução do hardware e os custos de produção permitirem a criação de algo capaz de performances e de se aguentar por vários anos.

Assim as consolas eram criadas, suportadas, tornadas mais atrativas e com menores custos graças a modelos slim e pequenas revisões, e em períodos de 5 a 7 anos lançava-se uma nova consola para substituir o modelo anterior.

Mas esta situação não era e nem nunca foi uma regra inviolável. Por exemplo na era da PS3 vimos novos modelos a serem lançados com menos características que os anteriores. Menos portas USB, remoção do hardware da PS2, mantendo compatibilidade por software, e posteriormente total remoção dessa compatibilidade e mesmo da possibilidade de se executar sistemas operativos como o Linux.



A Nintendo tambem teve um sistema de expansão na sua Nintendo 64, e lançou consolas como a DSi e a nova 3DS.

A Microsoft tambem não foi excepção com uma Xbox original que nem sequer teve direito a qualquer tipo de revisão devido a ter tipo um tempo de vida extremamente curto, juntando-se assim a consolas como a Gamecube ou a Dreamcast que tiveram um tempo de vida reduzido e sem direito a revisões.

Estas situações mostram irregularidades naquilo que não é nem nunca foi uma industria perfeita. Mas mesmo assim uma situação contrária à realidade atual do mercado onde basicamente tudo recebe novas versões anualmente. TV’s, tablets, smartphones, CPU’s, GPU’s, e tudo o mais relacionado com tecnologia de ponta.

Mas as consolas eram uma excepção… Previa-se que eventualmente a sua vida útil pudesse encurtar, mas dada a excepção, a expectativa era que estas escapassem à frenética necessidade de atualizações.

Ora caso a PS4K venha a ser uma realidade, um dos maiores nomes da industria das consolas, basicamente a marca que tornou as consolas populares junto dos consumidores, dará um golpe nessa excepção.

Ora aqui não vamos discutir se concordamos ou não com estas alterações, se preferíamos ou não que o antigo modelo se mantivesse, mas sim discutir os motivos que levam a esta alteração de uma realidade que tomávamos como assumida.



Pessoalmente nunca fui uma pessoa presa a marcas. Tive consolas Nintendo, Microsoft e Sony, e ainda hoje, apesar de o tempo já não me permitir o que permitia antes, tento aderir a todas as consolas onde estão os jogos que gosto.

Para além do mais, as quebras de retrocompatibilidade das consolas nunca me fizeram ficar preso aos jogos que tinha  e comprar uma nova consola pensando neles, preferindo manter as consola antigas. Mas claro, há aqueles que tomaram uma decisão e optam por se manter fieis a uma marca.

Mas o mercado no seu global não é assim. O mercado Americano por exemplo era completamente da Sony na era da PS2, mas virou para a Microsoft com a 360, e agora o maior volume de vendas voltou para a Sony com a PS4. Curiosamente, outra consola de sucesso, a Wii, não teve o mesmo nível de adoção com a WiiU.

A questão é que, no que toca a manter a biblioteca de jogos, a lealdade a uma marca não tem nem nunca teve verdadeira razão de ser devido às quebras de compatibilidade que não garantiam a passagem dos jogos que já possuíamos. A Microsoft reverteu à algum tempo a realidade com uma retrocompatibilidade por software lançada posteriormente, mas mesmo na Xbox One essa realidade não existia na altura do lançamento.

Desta forma, não sendo uma questão de preferência de determinados franchisings associados a uma marca, a lealdade a marcas… não tem razão de ser! Mas como as vendas de jogos como Halo mostram, com quebras sucessivas dos volumes de venda, os IPs com vários anos começam a tornar-se cansativos, e a inovação traz-nos coisas novas que podem estar em qualquer consola.



Mas basicamente com ciclos que basicamente quebram todos os laços com a geração anterior, o motivo de alguém se manter numa marca acaba por ser mais o sistema onde os amigos estão, e onde os jogos que queremos estão.

Ora para se garantir um melhor futuro às consolas, está na altura de se quebrar com essa situação, fazendo a retrocompatibilidade começar a pesar na escolha na altura da compra, e a tecnologia adotada pela atual geração de consolas permite isso mesmo!

Atualmente o paradigma está prestes a mudar… e em muitos sentidos!

Analisando a geração passada percebemos que, tal como em todas as gerações anteriores as consolas foram lançadas com uma performance acima do nível que os PCs da altura eram capazes de oferecer. Mas nessa geração, pela primeira vez, as consolas foram lançadas bastante abaixo do que os PCs podiam fazer.

 PC_Consoles



Mais ainda, a geração passada revelou já uma mudança radical face às anteriores. O preço para se conseguir essas performances tornava-se proibitivo, e as consolas foram lançadas a 700 euros, um preço que afastou durante muitos anos o grosso do mercado da adesão em massa às mesmas, que apenas aderiu em força às mesmas quando os preços desceram de forma radical.

Ora nos anos de vida da geração passada a situação complicou-se ainda mais, com o hardware de topo dos PCs a dar grandes saltos performance, mas desta vez acompanhado de preços desse hardware que se tornavam proibitivos. Lançar uma consola capaz de competir com o hardware dos PCs, e a preços atraentes para gerar boas vendas, pura e simplesmente deixou de ser uma realidade. O mercado mudou… e mudou de uma forma que impede que a realidade que conhecíamos para trás continue a subsistir.

Aqui as pessoas olham para as marcas como as más da fita. Mas na realidade a culpa é quase exclusiva dos consumidores e da realidade da economia mundial. Apesar de o dinheiro não abundar no bolso da maior parte das pessoas, os consumidores ao aderirem a práticas como as da Nvidia que lança placas gráficas a 1000 euros, que se tornam sucesso de vendas, habituaram mal o mercado. Agora estas empresas percebem que há mercado para produtos a esse preço, e dada a grande margem de lucro obtida aí há dinheiro para investimento em novas placas ainda mais potentes. E com modelos potentes a serem descontinuados, o mercado meio e baixo de gama vão igualmente beneficiando dessa performance graças a tecnologia potente que se vai tornando ultrapassada e acessível.

A consequência é que as consolas pela primeira vez na história foram lançadas com performances bastante abaixo do topo dos PCs, e estes em apenas 2,5 anos passaram dos 4.49 Tflops da Titan que em 2013 custava 1000 euros, para os 8.6 Tflops da Fury X que custa 620 euros.

Em apenas 2 anos, os PCs passaram de 2.4/3.44 vezes mais potentes (PS4/Xbox One) para 4,6/6.5 vezes mais potentes, com o custo da performance a descer, graças às ofertas da AMD, ao ponto de, por 200 e poucos euros termos GPUs PC, como a R9-380, a oferecer 3.5 Tflops.



É uma diferença tão radical face ao passado que esperar por um ciclo completo de 5 anos se torna impossível com o atual paradigma. Não só porque a nova PS5 para ser acessível não conseguirá, mesmo com um ciclo de apenas 5 anos na PS4, competir com o que haverá na altura no PC (a não ser que tenha um preço descomunal), mas as atuais consolas tornar-se-ão obsoletas mais rápido do que o normal, e as análises da Eurogamer tem vindo a demonstrar que as consolas cada vez menos apresentam novidades gráficas, cortando cada vez mais e mais face ao PC.

Com o PCs com APIs de baixo nível e com performances 4 ou mais vezes superiores em apenas 2.5 anos, as consolas precisam de mudar radicalmente a sua forma de encarar o mercado. Em 2018, altura em que as consolas fariam 5 anos, a disparidade de performances que já existe seria alarmantemente gigante, e sem possibilidade de ser recuperada, mesmo com lançamentos futuros de novas consolas.

Pior ainda, apesar de a AMD nos oferecer alternativas mais baratas que as NVIDIA, a tendência é o custo de produção das placas das topo de gama subir,. É o custo da performance perante uma tecnologia acessível que está prestes a atingir o limite com os 7 nm e com tendência a se tornar mais cara nessa altura. Tão cara que competir com a mesma numa consola se torna impossível

Torna-se por isso imperativo definir e vincar as plataformas. Ter a certeza que serão as consolas base a ditar os jogos para o hardware mais potente e não o mais potente a ditar os cortes para o mais fraco. Daí que a compatibilidades entre os sistemas mais fracos e mais fortes é imperativo, sendo que há que se criar as condições para ser o mais fraco a ditar as leis para garantir a optimização máxima de todos os sistemas, o que não acontece quando se pensa da forma inversa.

Nesse aspecto, e recolhendo tudo o que já falamos até agora, a escolha da tecnologia x86 é um grande passo. Oferece às futuras gerações algo que até agora não tivemos, a facilidade de mantermos sempre a retrocompatibilidade. E isso quer dizer que em 2050 poderemos continuar a jogar o Uncharted 4 ou o Halo 5 tornando as consolas mais atrativas e presas ao software já existente!



Esta tecnologia desce ainda os custos de desenvolvimento das consolas, permitindo que as mesmas sejam vendidas bastante mais perto do custo real do hardware, tornando-as assim mais atraentes a nível de preço face ao PC.

Mas restam algumas situações para salvaguarda. O garantir a subsistência da plataforma é essencial pois com ele surge a certeza que as bases se mantêm activas e atractivas, e igualmente o garante que as consolas, mesmo com os problemas de evolução futura, se mantêm competitivas enquanto podem face à performance e capacidades de um PC, ditando não só os jogos, mas oferecendo igualmente as performances que as melhores máquinas desejam.

A Microsoft foi a primeira a atuar nesse sentido. Quebrou com a barreira que sempre separou o PC das consolas, trouxe um API comum para o PC e a consola, e pela primeira vez na história, trouxe as optimizações do API para o PC.

Assim a Microsoft torna a Xbox numa plataforma mista que envolve o PC e a consola. A consola é a base de desenvolvimento, e o PC poderá usar a sua performance adicional para fazer mais e melhor, sem no entanto , graças a regras rigorosas, apresentarem grandes disparidades gráficas, tudo graças à existência e um sistema operativo comum, o Windows 10, e um API de baixo nível igualmente comum, o DirectX 12.

Esta foi certamente uma decisão polêmica, mas a Microsoft foi primeira empresa a caminhar nesse sentido. A Xbox One tornou-se na base da plataforma, o sistema mais optimizado, mas igualmente o mais fraco. Mas apesar de eventuais queixas, torna-se lógico que esta é a solução mais coerente no sentido de fazer a consola co-habitar com o PC e mantê-la relevante. É um sacrifício necessário!



É nesse âmbito que surge agora a PS4K. Uma consola da Sony que pretende fazer o com a sua plataforma o que a Microsoft fez com a Xbox ao trazê-la para o PC. Oferecer alternativas de maiores performances à plataforma Playstation, mantendo-a relevante face ao PC e à concorrência, e mantendo a Playstation como uma pltaforma igualmente atrativa que possa continuar a atrair novos potenciais clientes.

Ora quando Shuhei Yoshida refere que não tem a certeza se haverá uma Playstation 5, e Phil Spencer refere que haverá uma nova Xbox One, esta situação reflete as realidades diferentes das duas empresas.

Se para a Microsoft uma nova consola apenas precisa de ser um PC mais potente que eleve as especificações da base da sua plataforma, para a Sony uma nova consola precisa de ter uma base mais barata e uma alternativa um pouco mais cara com performances que possa competir com os topos das plataformas concorrentes. Basicamente, sem a opção dos PCs, a Sony precisa de duas máquinas para fazer o mesmo: uma base, e uma oferta mais potente, não sendo a mais potente substituta da existente, ou sequer compra obrigatória.

É isso que irá existir nesta geração com a PS4 e a PS4K, mas poderá não existir novamente com uma PS5 em formato físico, ou se existir ela deverá ser, mais uma vez, apenas uma PS4K melhorada, colocando a PS4K na posição da PS4 e a nova consola na posição da PS4K, não sendo assim uma verdadeira Playstation 5.

Basicamente, e face à atual realidade, para garantir o futuro da sua plataforma a Sony precisará sempre de uma consola base e uma com melhores performances para ser competitiva face ao PC e manter a marca Playstation atraente para os clientes desse mercado que estejam interessados nos jogos Sony.



Num futuro mais longínquo, e isso já foi discutido por várias vezes, sendo que mesmo a Microsoft já estudou essa possibilidade, acabarão as consolas físicas e o gaming passará pela oferta de jogos como um serviço. A Sony quando adquiriu o Gaikai pensava já nessa possibilidade! E com o PS Now, o serviço de streaming de jogos da Sony, o futuro da Sony e da PS5 poderá passar mesmo por aí, talvez mais cedo do que se pensa.

Seja com que perspectiva for, o lançamento de uma PS4K parece, do ponto de vista empresarial e do futuro da marca, a melhor solução da Sony. Naturalmente, pelo desagrado que a situação trará, a consola deverá ser atrasada o mais possível, mas perante estas perspectivas o seu lançamento parece inevitável, quanto mais não seja para que, mesmo que o futuro passe pelo streaming, o mesmo possa ocorrer a 4K com 60 fps. Mesmo o PS VR torna-se mais competitivo e passa a ter as performances desejadas enquanto o mesmo for dependente da Playstation, podendo competir com o PC e devendo, no futuro suportar o PC como periférico.

Com políticas que garantem que o desenvolvimento nas consolas da Sony se processa da mesma forma que na plataforma Xbox, ou seja com a PS4 a ser a plataforma de desenvolvimento e a PS4K a ser apenas capaz de executar o mesmo de forma melhorada a nível de performances, a PS4 garante a continuidade do seu suporte, e a Sony garante o interesse e competitividade da plataforma para os próximos 3 anos.

Não é algo que um cliente da PS4 atual deseje, e não é algo que agrade à maioria, mas é algo que, depois de devidamente analisado, entendo que parece revelar-se como necessário, mesmo sendo eu um dos que não fica agradado com esta situação. Mas seria utópico pensar-se que a Sony não sabe da revolta que a situação criará. Infelizmente a empresa está colocada numa posição onde os consumidores, com as suas práticas, a puseram. E agora necessita de reagir e pensar no futuro da sua plataforma consciente que mesmo que  sua consola ainda tenha trunfos na manga eles não chegam para acompanhar a força bruta dos PCs e a evolução garantida à Xbox com a criação da plataforma mista com o PC.

Será certo que devido a tal todos sentiremos no futuro falta do lançamento de novas grandes consolas, com deltas de performance esmagadores face aos modelos antigos. Agora o que teremos serão atualizações a cada 3 anos… até à inevitável passagem para os serviços de streaming. Mas perante a realidade introduzida pela Microsoft que garante um futuro à Xbox onde teremos sempre um modelo base e toda uma plataforma mais potente a ser suportada, a Sony não pode nunca cair no erro de manter apenas um modelo base ultrapassado à partida, apenas apostando no nome e marca. Até porque os utilizadores que se mostram agora revoltados serão os primeiros a saltar do navio se virem a consola a ficar para trás face ás ofertas da concorrência…



Pessoalmente fico triste… Gostava mais das coisas como eram! Mas ao menos fica a garantia que a PS4 será, tal como a One, a plataforma base de desenvolvimento. E o que se tem visto com esta política no lado da Microsoft, até tem sido bons resultados.

Mas as consolas como as conhecíamos… chegaram ao fim! A Microsoft misturou-as com o PC, a Sony mantem o conceito fechado mas necessita de mais do que um modelo no mercado, que ofereça jogos idênticos, desenvolvidos para o modelo base, mas que ofereça performances de topo.

É o fim de uma era! E o inicio de outra!



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