Os problemas de uma consola que requeira ligação permanente à internet

Independentemente de a Xbox 720 precisar ou não de estar constantemente ligada à internet para funcionar, essa situação despoletou uma grande polémica sobre a real necessidade de um serviço desse género. E o certo é que de bom não traz nada.

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Comecemos por analisar esta situação com um facto. Uma consola, mesmo que precisando de internet para se actualizar e para jogos online, NÃO necessita de uma ligação permanente à internet. A existir uma situação desses género trata-se de uma imposição do fabricante que irá trazer restrições das mais diversas aos utilizadores das consolas, e cujo interesse para estes é pura e simplesmente ZERO.

Diga-se que não há absolutamente nada que uma consola que não requeira uma ligação permanente à internet não possa fazer igual a uma outra que o requeira. Mas já o contrário não é verdade, e mesmo situações simples como jogar nela podem ser impedidas por esse factor.

A controvérsia sobre este assunto iniciou-se com Diablo III e a sua necessidade de, mesmo em jogo de um único jogador, existir uma ligação ao servidor. Na altura com milhões de pessoas impedidas de jogar o jogo por problemas com os servidores, as queixas sucederam-se.



Mas mais recentemente foi Sim City que voltou a iniciar a polémica. Novamente milhões de utilizadores impedidos de jogar por problemas nos servidores que, como se provou, não serviam para mais nada senão controlo de pirataria (Apesar de a Electronic Arts continuar a desmentir aquilo que ficou provado).

Vamos no entanto imaginar que a Microsoft caso criasse algo do género para a sua consola, não cairia nos erros dos restantes, e criaria uma infra-estrutura capaz de aguentar com a ligação de todas as consolas. Ou seja, vamos imaginar que este problema não aconteceria com a consola.

Mesmo assim, quais seriam os inconvenientes:

Bem, quem joga online sabe que os servidores precisam regularmente de manutenção: Actualizações, resolução de problemas, e milhares de outros factores diversos obrigam a essas situações. E se esta situação era algo até à uns tempos reservada aos jogos multijogador online, com as questões do DRM aplicadas em Diablo e Sim City começaram a aplicar-se aos jogos de um único jogador. Trata-se de uma medida que não traz ganhos nenhuns ao utilizador e que para este é completamente desnecessária.

A questão é só uma. Quando há manutenções, mesmo que por poucas horas, os jogos ficam inacessíveis. E no caso de uma consola que necessitasse de uma ligação permanente à internet, esta ficaria totalmente inacessível. Quando uma consola deveria ser algo que simplifica a vida ao jogador permitindo um acesso rápido e simplificado ao jogo, esta medida parece contra-producente.

Mas já que estamos a falar de servidores, há mais situações que podemos falar. Hacks, ataques, e mais simplesmente sobrecargas.



Um servidor pode ser hackado ou atacado. Essa situação pode tirar um servidor do ar por dias ou mesmo semanas, seja por os tornar incapacitados com ataques DDoS ou por ser comprometida a sua segurança. Isso não seria novidade, e a PSN já sofreu esse problema. Mas se isso não afectou os jogos que não requeriam ligação à internet, no caso de uma consola que requeira ligação permanente à internet tal acção tornaria a consola inutilizável.

Mas não vamos esperar o pior. Vamos apenas pensar em situações mais comuns como sobrecarga dos servidores. Esta é uma situação real que acontece sem a existência de ataques ou hacks e apenas pelo uso normal dos utilizadores, mas que ao contrário das manutenções não possui horas agendadas. E casos como esses anulariam igualmente a consola.

Mas continuando nos servidores vamos falar do problema pior. O facto que estes não duram para sempre.

Desde criança que tenho tido computadores e consolas das mais variadas. E a realidade é que ainda as tenho todas e perfeitamente funcionais. Apesar de não ter muito tempo para as mesmas, a verdade é que ainda as uso, e por exemplo a Playstation 2 ainda a ligo algumas vezes.

Já no que toca a alguns jogos antigos que comprei pela componente multi-jogador, esses jogos estão “aleijados”. Devido ao encerramento dos servidores apenas a componente de jogador único pode ser jogada. Algo que nem nesse aspecto será uma realidade daqui a uns tempos quando os servidores de Diablo III ou Sim City fecharem. E vão fechar!



Esse seria o maior problema com uma consola que requeira uma ligação permanente à internet: Mais cedo ou mais tarde os servidores vão fechar. A Nintendo está a fechar os serviços online da Wii por exemplo, e a consola ainda está a ser vendida. Mas se na Wii isso não afecta a maior parte dos jogos, numa consola de ligação permanente o encerramento dos servidores tornariam a consola num grande pisa papeis. E com ela iriam para o lixo todos os jogos adquiridos.

Ou seja, com uma consola que possua um funcionamento desse género na realidade o comprador nunca poderia dizer que comprou fosse o que fosse. Na realidade apenas teria alugado a consola e jogos para uso durante a duração de vida dos servidores. Uma vez estes fechados os direitos de utilização terminam e tudo fica anulado para sempre.

Não quero sequer alongar-me aqui de problemas relacionados com terceiros que possam afectar igualmente a consola. Se até agora apenas avarias na consola ou TV e falta de luz poderiam levar a que um jogador fosse impedido de jogar, com uma consola assim haveria de acrescentar os hacks, ataques, manutenções, sobrecargas de servidor, problemas de internet, problemas de ligação, problemas no router e quebras de serviço do ISP. Isto apenas enumerando as coisas que ocorrem.

E o que ganha o utilizador com isto face a uma consola sem ligação permanente? Chatices! Apenas isso!

Há igualmente que dizer que só há uma justificação para estas situações. O controlo de originais (DRM). E com isso poderiam vir problemas adicionais de autenticação dos jogos, bem como o fim do mercado de usados caso os jogos sejam bloqueados à consola onde são activados.



E se já referimos que em Portugal apenas 57% dos lares possuem internet, fazendo inclusive um comparativo com a realidade Americana, e mostrando como os números são enganadores, eis que temos dados da International Telecommunication Union (ITU) que estima que em 2013 apenas 41% das habitações de todo o mundo possuem acessos à internet em casa, um número que desde para 28% nos países em desenvolvimento. E ao ritmo actual demorará 20 anos a compensar a situação.

Mas estamos apenas a ver a situação por um dos lados pois a isto há ainda que acrescentar a qualidade da ligação pois muitas das existentes ainda possuem quebras ou lags abismais tornando o acesso um verdadeiro tormento.

Se juntarmos a isto o conceito de uma consola que é o simplificar a vida das pessoas fornecendo-lhes um acesso rápido e simples aos jogos. E se alguém tenta desvirtuar essa realidade o produto que vende não merece ostentar o nome de consola.

Lembrem-se apenas de uma realidade da vida. Ninguém dá nada a ninguém sem esperar obter benefícios. Se uma empresa está disposta a investir numa infra-estrutura de custos tremendos para suportar um produto que possua uma necessidade de estar sempre ligado é porque pretende ganhar algo com isso e recuperar o seu investimento. Pelo que o cliente pode estar ciente que de uma maneira ou outra, lhe serão propostos serviços que trarão custos extra. Falta saber é se esses serviços se revelarão cruciais ou não, mas no caso da XBox o Live é essencial para se usufruir de todas as capacidades da consola.



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