Retro-compatibilidade – Todos a querem… ninguém a usa!

A última semana deu o que falar quando Jim Ryan da Sony veio referir que a retro-compatibilidade, uma das características que mais se fala da Xbox One,  é uma característica muito pedida, mas que ninguém usa.

Não haja dúvidas que a retro-compatibilidade é algo que muito se elogia, e que tem sido uma bandeira da Microsoft com a sua Xbox One e a retro-compatibilidade com a Xbox 360.

Mas Jim Ryan da Sony veio referir que essa característica, apesar de ser muito solicitada… é algo que poucos usam, e como tal não justifica o investimento na mesma!

Será que Ryan tem razão?

Aproveitando o timming da Sony, a arstechnica revelou um estudo realizado dentro da própria Xbox Live e usando ferramentas de análise que a Microsoft disponibilizava até à bem pouco tempo, e que envolveu um total de 930 mil consolas que se registaram na rede desde o dia 26 de Setembro de 2016 a 12 de Fevereiro de 2017. E os resultados de uso das consolas foram os seguintes:



Como se vê claramente, apenas uma pequena fatia de 1,5% do tempo usado em jogo por todos os utilizadores registados utilizaram a retro-compatibilidade, mostrando assim que, por muito interesse que haja na mesma, depois na prática, o seu uso é extremamente limitado.

Dado que para a Sony a retro-compatibilidade com as suas anteriores consolas é algo bastante mais complexo do que acontece com as consolas da Microsoft, esta situação fica assim fora dos planos da Sony pelo pouco interesse demonstrado pelos utilizadores da Xbox na característica.

Naturalmente a internet fez-se ouvir. O volume de interessados na característica, mesmo não a usando, falou e questionou não só as palavras de Jim Ryan, mas igualmente o timming deste estudo e os resultados, fazendo lembrar que Call of Duty: Black Ops para a Xbox 360 registou uma re-entrada nos tops de vendas  da X360 devido ao facto de o jogo ter entrado em retro-compatibilidade (um aumento de vendas de 13600%), o que demonstrava o claro interesse dos jogadores.

Mais recentemente, Mike Ibarra, vice president da plataforma de gaming Xbox e Windows veio referir que “raspar dados de um servidor pode dar uma representação errada do que as pessoas fazem com as suas máquinas“.



E esta frase, apesar de não ser assertiva ao dizer o que está mal ou se algo efectivamente está mal, levanta ainda mais questões. Será que o estudo, apesar de ter sido efectuado com dados da própria Xbox Live, não é válido, ou que há algum erro nele?

Infelizmente perante contradições não há como se saber a realidade. Ou será que há?

Dizem as más linguas que o estudo logo a seguir às frases de Jim Ryan não passa de um esquema orquestrado para queimar um atuais dos porta estandartes da Xbox, a retro compatibilidade. Mas será? Haverá alguma maneira de saber se Jim Ryan tem razão e se o estudo é ou não fiável.

Na realidade sim!

Felizmente é possível fazer-se um pequeno cálculo de verificaçã para termos uma ideia da proximidade com a realidade deste estudo, e para isso, de forma a garantirmos fiabilidade, nada como usarmos uns números oficiais fornecidos pelas próprias marcas, colocando-os dentro das mesmas unidades.



Será perante os valores que obtivermos que saberemos se o estudo em causa estará efectivamente enganado ou não! Vamos lá então ver!

Em Novembro de 2016 (mais ou menos a meio do estudo), o conhecido Major Nelson da Microsoft dava a conhecer que a utilização dos utilizadores da retro-compatibilidade tinha atingido um valor recorde que tinha ultrapassado os 210 milhões de horas jogadas no espaço de um ano!

Na altura este foi um valor muito à Microsoft… 210 milhões de horas jogadas num ano… Um daqueles números grandes que a Microsoft gosta de referir! É como 1 000 000 milimetros (1 milhão de milímetros)… que na realidade é apenas 1 Km… Daí que sem uma escala comparativa, a questão é… Isto é muito… ou pouco?

Bem, para podermos ter uma ideia foi preciso que a Sony tivesse revelado uns dados semelhantes sobre a sua rede, e onde numa notícia recente, dá a conhecer que os jogadores da PS4 jogam em média 50 mil anos por semana.

Ora temos então do lado da Microsoft um número oficial de 210 000 000 de horas por ano em retro-compatibilidade.



E do lado da Sony temos um número oficial de 50 000 anos por semana na totalidade dos jogos!

Colocando isto nas mesmas unidades, em horas por semana, temos:

210 000 000 horas por ano, com um ano a ter 52.177457 semanas, corresponde a 4 024 726, 617 090 595 horas por semana, ou arredondando, cerca de 4 milhões de horas por semana.

Ou seja, os utilizadores Xbox jogam acima de 4 milhões de horas por semana jogos retro-compatíveis.

Passemos agora aos números da Sony.



50 000 anos por semana, tendo um ano 24*365 horas, corresponde a 438 000 000 de horas por semana, ou 438 milhões de horas por semana!

Um número que, como seria de esperar, até porque abrange a totalidade do uso da consola, é esmagadormente maior que na Xbox que apenas engloba o uso da retro-compatibilidade!

Ora sabendo-se que o número de consolas PS4 no mercado é cerca do dobro do número de consolas Xbox One, poderíamos extrapolar que os possuidores desta consola, jogando na mesma medida, jogam metade destas horas (e não temos dados para acreditar que joguem menos ou que joguem mais). Isso corresponderia, considerando a base de utilizadores Xbox One metade da da PS4, a 219 milhões de horas usadas na totalidade dos jogos!

Ora verificando quanto seriam os referidos 1,5% dessas horas, teríamos um valor de 3,285 milhões de horas.

Por esta estimativa, as 4 024 726  horas corresponderiam a 1,8% do uso da consola, um valor que não está longe do apresentado pelo estudo, e que leva a acreditar que o mesmo estará, dentro de uma margem de erro aceitável, correcto.



E nesse sentido teremos de considerar as afirmações de Jim Ryan como fundamentadas.

Naturalmente isto não quer dizer que não haja quem use a característica de forma mais intensiva que outros, afinal haverão igualmente aqueles que nem sequer a usam.

Mas sinceramente, estes resultados nem deveriam, no fundo, surpreender ninguém. O PC é dos melhores exemplos de máquinas que mais mantiveram a retro-compatibilidade, e quantas pessoas conhecem, com máquinas atuais, que continuem a jogar, de forma regular, os velhos títulos? Elas existem… eu próprio sou uma delas, mas nunca, eu caso algum, dou primazia a esses títulos face a novidades.

O certo é que, como Jim Ryan refere, com o passar dos anos, o grafismo dos jogos fica ultrapassado, e jogabilidade mostra a idade perante as novas implementações, e há novas e melhores versões para se jogar. O avanço da tecnologia tambem não ajuda e as TVs digitais com grandes ecrãs e uma imagem quase perfeita e elevadas resoluções, ajudam muito a mostrar lacunas gráficas que antes passavam despercebidas. Daí que acima de tudo, apesar do valor dos jogos se manter inalterado, é mais a nostalgia que nos move do que realmente outra coisa.

A retro-compatibilidade é algo que se agradece, algo que certamente todos gostariam de ter (e eu sei que gosto), mas cujo uso posterior, pelos motivos de cima, acaba por ser esporádico. Basta dizer que possuindo ainda uma PS2, uma PS3, uma Xbox e uma Xbox One (e não falo das Nintendo), ainda ligadas a TVs e com a sua livraria de jogos, raramente as ligo excepto no periodo das férias de Natal onde é costume matar a nostalgia.



Basicamente o que se conclui deste estudo que felizmente conseguimos comprovar como válido, é que uma coisa é o interesse na característica, outra é o uso efectivo da mesma, e estes estudos mostram que o uso real existe, mas é muito, muito pequeno. E ele seria manor na PS4 onde os jogos exclusivos de qualidade abundam, ao passo que a realidade de 2017 da Xbox One a nível de exclusivos tem sido, até ao momento, um vazio, o que levará as pessoas a refugiarem-se mais na retro-compatibilidade e antigos jogos e exclusivos.

O estudo total pode ser encontrado aqui, e dele podemos retirar alguns dados extra bastante interessantes que deixamos de seguida:

Jogos onde os possuidores da Xbox One jogam mais tempo:

Jogos Xbox 360 onde os utilizadores jogam mais tempo:



Jogos mais possuídos pelos utilizadores Xbox One:

Jogos mais possuidos pelos utilizadores da Xbox 360:





error: Conteúdo protegido