Warren Spector sobre a industria : “Ninguem sabe o que está a fazer”

Warren Spector é uma referência para o mundo dos videojogos, especialmente para aqueles que andam nisto à mais tempo. E numa recente entrevista este comentou o estado atual da industria dos videojogos, referindo aquilo que é a constatação de uma realidade “Ninguem sabe o que está a fazer”.

Nota introdutória: Esta é uma notícia de Abril que foi escrita, mas deixada depois para segundo plano pela maior preponderância de outras notícias, ficando depois esquecida junto com algumas centenas de rascunhos. No entanto, perante os anúncios de várias empresas que pretendem entrar nos modelos de subscrição, contando-se já oficialmente, seja em funcionamento ou anunciados, com o Stadia, Gamepass, Xcloud, PSNow, Uplay+ e EA Access, e outros pequenos players que já se encontram em funcionamento, e com previsões e entrada de muitas mais empresas, acreditamos que a notícia ganha novamente relêvancia, tendo assim sido recuperada! Segue-se assim o texto original:

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Naturalmente que muitos nunca ouviram falar de Warren Spector, especialmente os mais novos. Mas para quem acompanha a industria à algum tempo, sabe que ele é uma referência do mundo dos videojogos, e um nome associado a muitos dos avanços que este teve.

Apesar de Warren estar ligado à industria desde 1983, creio que foi em 1989 que ouvi pela primeira vez o seu nome associado ao RPG referência da época, o Ultima VI.



Mas o seu currículo é muito mais extenso, tendo participado de quase todos os Ultima posteriores. MAs jogos como Wing Commander, System Shock, Wings of Glory, Bad Blood, Thief: The Dark Project, , Deus Ex: Invisible War, e Thief: Deadly Shadows, fazem parte do seu currículo.

Warren esteve depois afastado da industria, tendo leccionado na universidade do texas. Retornou à industria em 2016, onde se juntou à OtherSide Entertainment, onde trabalha em System Shock 3 e no sucessor espiritual de Ultima Underworld, denominado Underworld Ascendant.

Quando Warrent entrou na industria, a mesma estava longe de estar definida. O mercado estava em crescimento, mas o seu rumo ainda estava longe de estar definido e assente. Warren foi por isso um pioneiro que participou na experimentação de modelos de negócio até se ter assente no que existe actualmente.

Daí que não é de estranhar que Warren refira que o que se passa agora lhe faz lembrar os tempos antigos, o que de certa forma se torna excitante. Mas a realidade segundo Warren é só uma: “Ninguem sabe o que está a fazer

Basicamente Warren Spector da a entender que ninguém tem certeza que os atuais modelos funcionem, que eles venham a ter sucesso. É exactamente esse retornar às origens que ele entende como excitante.

Apesar de concordar com ele, não consigo ver nada de excitante aqui. A situação pode muito bem ser interessante na perspectiva de pioneiros como Warren, que se deram muito bem. Mas certamente não o será na perspectiva de outros que, não tendo a mesma sorte, se deram mal.



A realidade é que o mercado estava basicamente assente. Os lucros cresciam como nunca, e o Gaming tornou-se num negócio super lucrativo. Quando em 2010, 2011 e 2012 se esperava que um modelo como as consolas pudesse morrer, o que se passou daí para a frente mostrou que elas estão mais vivas do que nunca, e que o modelo de negócio existente é funcional e lucrativo.

Naturalmente que o que se está a tentar fazer agora é certamente inovador! Há uma revolução em curso que pode criar as bases para o que poderá ser o futuro dos videojogos.

A questão é que nada disto acontece sem risco… qualquer rumo da industria numa direcção em que “Ninguem sabe o que está a fazer” é um risco. Um risco que pode ser bem sucedido, mas igualmente… mal sucedido.

Naturalmente que o bom rumo das coisas será interessante, mas o que preocupa é se a coisa corre mal! Atualmente a realidade é diferente da era em que Warren era pioneiro. Na altura as empresas eram pequenas empresas e não multi nacionais, dando-se assim oportunidades a todos. O custo dos jogos eram ridiculamente baixo e as equipas de desenvolvimento eram de 2 ou 3 pessoas. O que se passa agora com o topo da industria é bem diferente. E é exactamente por se temer que os produtos que saem daí, os jogos mais interessantes e melhores, possam sofrer, que esta situação de risco não agrada.

Especialmente quando se vê que, mesmo que a industria no seu global até pudesse beneficiar, esse topo, que é o que nos move a todos correria o risco de desaparecer ou pelo menos descer a qualidade do que pode apresentar.





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