Afinal a internet é como as bolachas. Ou pelo menos é assim que um ISP a compara para justificar limites de tráfego!

A internet é como as bolachas. A maior parte das pessoas não sabe, mas a Oreo deve saber, pois foi com estas bolachas que a internet foi comparada para se justificar limites de tráfego.

A FCC, e entidade reguladora de internet Americana quer acabar com os limites de tráfego (pelo menos os ridiculamente baixos) impostos pelos ISPs, e uma discussão está actualmente aberta sobre o assunto.

Mas se julgavas que aqui se iriam discutir aspectos e limites de capacidade que usando jargão e aspectos técnicos, desengana-te. A Mediacom, um ISP norte Americano resolveu explicar à Federal Communications Commision (FCC) os motivos porque os clientes não devem ter internet sem limites. E isto porque a internet é como as bolachas, mais particularmente as Oreos.

Como o ISP explica, e resumindo tudo numa linha:

Se queres as com duplo recheio, tens de pagar mais.

Mas a explicação foi mais detalhada:



Imaginem que vão dar um passeio, e de repente… sentem um desejo irresistível por bolachas Oreo. Tu só queres gastar 2 euros, o que quer dizer que poderás comprar um pacote com 2 bolachas, um pacote com 4 bolachas, mas certamente não poderás comprar os pacotes familiares com mais de 40 bolachas. Para isso tens de gastar mais. Claro que seria bom que os dois euros permitissem comer um número ilimitado de bolachas, mas todos sabemos que não é assim que a economia funciona.

E neste caso as pessoas nem sequer devem reclamar, ou pelo menos é isso que este ISP acha:

Apesar de virtualmente todas as outras industrias darem preços aos seus produtos e serviços da mesma forma, algumas pessoas pensam que os ISPs são a excepção e que devem gerir o seu serviço como um buffet onde podes comer o que quiseres.

E desta forma ficamos a saber duas coisas. Os ISPs são serviços de buffet onde podes comer o que quiseres… mas o que servem são bolachas Oreo! Certamente informação muito útil que quase todos desconhecíamos.

Mas tirando essa parte séria da conversa, apesar da coerência do discurso, tudo o resto é ridículo! O que é pago é um serviço basicamente de acesso livre, e um serviço que permite acesso a outros serviços. O serviço é vendido com velocidades de acesso, mas não com limites de acesso, existindo quando muito uma política de utilização razoável com um limite elevado e que a maior percentagem dos utilizadores não alcança nunca.

E ao contrário do que estes senhores dizem, o acesso ilimitado não é algo único nos ISPs. Como exemplo físico temos os passes mensais para os autocarros, ou os acessos livres aos ginásios, que permitem usar os mesmos de forma livre mediante um pagamento mensal, e como exemplo de serviços na internet temos o Netflix ou o Spotify, que mediante um pagamento mensal permite macesso igualmente livre e sem limites aos filmes e músicas ali colocados.

Depois face às Oreos, ou mesmo aos buffets, há grandes diferenças. É que a partir do momento em que negoceias um fornecimento, estás limitado na escolha uma vez que a tua área não é coberta por muitos fornecedores, sendo que por norma estarás limitado a dois OSPs (Oreo Service Providers) . E esse fornecimento acaba por ficar ligado a uma fidelização das bolachas deles por 2 anos. E isso quer dizer que caso haja meses excepcionais onde consumirias mais bolachas o que estes senhores propõem é que passes fome ou pagues mais.

A questão é que num buffet se eu não gostar das bolachas que me servem, ou se o do lado estiver mais barato, no dia seguinte mudo. Aqui não só não posso pela fidelização, como o serviço é pago ao mês, o que quer dizer que atingindo o limite de bolachas hoje, ficarei o resto do mês sem comer, mas a pagar como se estivesse a receber o prato cheio de Oreos todos os dias!



Mas o pior é que o cliente quando sabe que tem um limite, não consegue, de forma fiável contar as bolachas que come, e fica dependente da informação dada pelo OSP. E argumente o que argumentar, é a contagem das bolachas deles que conta, mesmo que os métodos de contagem que usa mostrem valores radicalmente diferentes, e como tal, paga e não bufa!

Já agora, para terminar, três notas:

  • Caso sejam dados ouvidos a estes senhores, fica a sugestão para a FCC mudar o nome para CoMo, as iniciais de “Cookie Monster”, ou o Monstro das bolachas da Rua Sésamo. Afinal se a internet é como as bolachas ninguém percebe mais de bolachas que ele!
  • Caso sejam dados ouvidos a estes senhores talvez seja melhor comparar a internet a adubo natural, em vez das Oreos. Porque certamente algo cheirará mal na forma como se adultera algo que sempre funcionou da forma que todos conhecemos, e não serão as Oreos, mesmo que fora do prazo!

Numa nota final e num tom mais sério, mas comparativo, conto uma pequena história real:

Numa cidade vizinha à minha cidade natal, mas que não quero dizer o nome, existe desde que tenho memória uma refinaria da Petrogal. A mesma ocupa uma larga extensão junto à marginal, uma zona que, a ser ocupada por habitações, seria privilegiada pela localização.

Naturalmente, por ser uma zona privilegiada, várias construções apareceram na envolvente da refinaria, mas que, apesar do local, não eram vendidas a preços muito elevados exactamente pela proximidade da refinaria e dos odores por vezes libertados pela mesma.



Esta situação permitiu a que milhares de pessoas pudessem adquirir naquela zona casas junto ao mar, a preços mais reduzidos, e que nunca pagariam caso a refinaria ali não existisse. A evolução da habitação foi relativamente lenta pois nem todos os construtores estavam interessados na zona, mas aconteceu, e actualmente a mesma está saturada a nível de habitação.

O curioso foi ver que a certa altura os moradores resolveram unir-se e criar um abaixo assinado solicitando a retirada da refinaria do local uma vez que tal prejudicava a qualidade do ar nas zonas de habitações.

Sim, perceberam bem! As mesmas pessoas que usufruíram de preços baixos pela realidade do local, e que compraram a casa a preços baixos pelo facto que que a refinaria estava ali naquele local já à muitos anos, e muito antes sequer das suas casas serem construídas, estavam agora a tentar dar o golpe do baú e a tentar remover a refinaria do local. Tal a acontecer impulsionaria os valores das casas para preços acima dos pagos originalmente e permitiria encher os bolsos a muita gente.

Naturalmente tal não teve sucesso nenhum. Mas parece-me que é isto que este ISP está agora a tentar fazer. Entrou num negócio cuja realidade conhecia, mas agora pretende alterar a mesma de forma a melhorar os seus lucros. E tal como o que se passou com estes moradores, parece que alguém está a tentar ganhar o seu.



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