Pete Hines da Bethesda quer ver os muros que separam os sistemas a cairem

Nota: Este é um artigo de opinião sobre as frases de Pete Hines. Acreditamos que as suas palavras, vindas de um representante de uma empresa que impede Fallout 76 de ser colocado à venda no Steam, se tornam algo polémicas. E a falta de coerência aí demonstrada mostra que a Bethesda quer efectivamente algo diferente para o futuro, mas não sabe é bem o que!

Pete Hines quer acabar com as barreiras entre as consolas, alegando que não há justificação para se fazer um jogo para uma consola que não corre na outra. Refere assim:

Nós como industria temos de nos começar a mover para não sermos tão restritos ao ponto de dizer “Apenas farei algo para esta máquina e não para esta outra”.

Penso que vamos ver as plataformas a serem mais homogeneizadas. Porque a ser sincero não há realmente uma razão para as consolas concorrentes serem diferentes. Não compras um DVD e depois preocupas-te sobre que leitor tens. Apenas compras um DVD e tudo o que lê DVDs funciona. E penso que os jogos se vão começar a mover para algo mais perto disso.

Podes decidir se jogas na máquina da Sony ou na da Microsoft, ou se usas o serviço de Streaming da Google, mas acho que vai começar – penso – a ser cada vez mais irrelevante onde escolher jogar.

Pessoalmente olho para estas palavras com grande desconfiança. Para começar acho as mesmas algo hipócritas quando se fala de criar algo universal e sem barreiras, mas se dá a conhecer ao mundo que o Fallout 76 não será colocado no Steam porque a Bethesda quer ser ela própria a distribui-lo.

Aparecer uma pessoa a referir que as empresas devem acabar com as barreiras alegando uma uniformização e o fim das diferenças entre plataformas, ao mesmo tempo que a sua empresa está a anunciar que Fallout 76 será obtido exclusivamente por intermédio da Bethesda, impedindo a Steam de o comercializar, retira toda e qualquer seriedade às palavras de Pete Hines. A suposta liberdade e uniformidade de mercado apregoada, só interessa quando não beneficia os outros. Perceba-se que Pete Hines está a pedir aos fabricantes das consolas que abdiquem daquilo que torna os seus sistemas únicos. Que abdiquem do controlo sobre os mesmos. Mas aqui cria um jogo e a Bethesda pretende controlar a sua distribuição! O que dá esse direito à Bethesda de exclusividade sobre o seu jogo, mas não permite aos fabricantes das consolas o direito a terem exclusividades nos seus produtos?

Para todos os efeitos, é isso mesmo que se passa. Ao mesmo tempo que fala do fim dos exclusivos, a Bethesda está a tornar a distribuição do jogo exclusiva. E isso leva-nos ao que acabamos de referir: Como é que uma empresa pode pretender algo exclusivo para melhorar o seu negócio, e ao mesmo tempo defender que os outros necessitam de acabar com as barreiras e com as exclusividades?



Naturalmente que quando fala do final das exclusividades, a Bethesda pode estar apenas a referir-se ao facto que certas máquinas podem agora ser abrangidas por Streaming, sendo que sem ele nunca o poderiam ser. Mas se é essa poderá ser a ideia, não é isso efectivamente é dito por Hines, e a sua primeira frase dá a entender que o defendido é o fim dos exclusivos que separam as consolas, sendo que o seu conceito de derrubar barreiras passa pela ideia de as tornar todas absolutamente iguais. Tal e qual como acontece com os leitores de DVD.

Ora não só acho que Pete Hines se está a intrometer em situações que não são da responsabilidade e nem da gestão da Bethesda, como a comparação com os DVDs acaba por ser, de certa forma algo ridícula. É que todos sabemos que com o modelo de jogos físicos, as diferenças entre o hardware não permitem outra coisa senão a separação que há atualmente, e apenas com a introdução do streaming é que as barreiras de compatibilidade do hardware podem cair. Mas aí a comparação com os DVDs deixa de fazer sentido, e este tem de ser feita com o modelo de distribuição digital. E nessa distribuição digital todos sabemos que o conteúdo exclusivo continua a ser um dos factores que mais chama as pessoas. Basta olhar para o Netflix e o conteúdo exclusivo que cria e possui!

Daí que a referência ao fim dos exclusivos é incompreensível. Porque deve a Bethesda ou outro qualquer, esperar que os exclusivos possam terminar? Não deverão os produtores tentar chamar o público para os seus produtos criando algo que separe o seu produto do da concorrência? E se há essa ideia, como se a defende ao mesmo tempo que se defende a exclusividade da distribuição de um dos seus jogos?

Basicamente não encontro grande coerência nas frases de Pete Hines senão o mostrar o desejo de acabar com a produção multi plataforma, entrando na produção de um único jogo que por metodologias como o Streaming, se torna universal. Mas se é assim, as comparações que faz são terríveis nesse sentido, e os exemplos dados pela Bethesda são ainda piores!

Pior ainda, abordar o fim dos exclusivos, quando tal é uma escolha livre só pode ser visto como um receio de que o modelo atual possa persistir e com sucesso, e que a qualidade, devido às optimizações, dos jogos corridos localmente, possam superar em algum ponto a dos jogos genéricos em streaming, dividindo o mercado pelos dois modelos e prejudicando o modelo de negócio de streaming desejado pela Bethesda que, como eles sabem, o sucesso dele é, nesta fase, ainda uma incógnita.

Quer assim parecer-nos que a Bethesda com estas palavras está a atirar um pouco para todos os lados, sabendo bem que pretende um rumo algo diferente no futuro, arranjando argumentos para sustentar uma ideia ainda pouco definida, mas com argumentos que se revelam pouco coerentes e válidos, mostrando a existência de uma consciência de que há uma incerteza muito grande no rumo que pretendem tomar.



 

 

 

 

 





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