Criador Indie mostra bem a diferença entre os Indies e os jogos AAA face aos serviços de subscrição

A People can Fly queixou-se que o pagamento para o seu jogo estar no Gamepass não cobriu a perda de vendas. Agora há um dev indie a dizer que sem o Gamepass não consegue ter lucros na Xbox.

Tornou-se desde já claro para nós, desde à bastante tempo uma realidade. Que os servições de subscrição, onde se inserem o Gamepass ou a PSN+ são algo excelente para os Indies, mas algo questionável para os jogos AAA.

Num exemplo passado no Gamepass, recentemente tivemos aqui declarações da People Can Fly onde estes referiam que, devido à adesão ao serviço da Microsoft, o seu jogo não tinha conseguido ser lucrativo nessa plataforma.

O motivo era simples. O pagamento do Gamepass não compensou a perda de vendas que o jogo teve, e como tal o jogo não conseguiu recuperar o investimento feito em ser colocado na Xbox.

Mas agora há um dev Indie, os The Game Bakers que vem demonstrar que, para os Indies, a coisa é exatamente o contrário, e que o seu jogo sem um serviço como o Gamepass ou o Playstation Plus, basicamente não consegue vender.



E ele comprova isso com dados:

Recentemente este dev teve um jogo chamado Heaven que foi lançado no Gamepass. Apesar de o sucesso do jogo se manter dependente das vendas, o pagamento obtido pela adesão ao serviço  da Microsoft cobriu-lhes 1/4 ou 25% do custo do jogo.

Com o Gamepass, o número de unidades acedidas distribuíam-se da seguinte forma pelas diversas plataformas:

73% dos jogadores que jogaram o jogo acediam pelo Gamepass… Já no capítulo das compras, cerca de 17% eram PC /16% do steam e 1% (estimado pela imagem) de outras lojas. De resto, algo como 6% eram Switch (estimado pela imagem), a PS4+PS5 tinham outros 6% (estimado pela imagem), e a Xbox cerca de 1% das vendas (estimado pela imagem).

Ignorando o Gamepass, as vendas ficaram então com estas percentagens:



Basicamente a Xbox, incluindo Xbox One e Xbox series, onde o jogo foi lançado no Gamepass terá tido algo como cerca de 3% das vendas (estimado pela imagem), o que não se torna minimamente atrativo. O PC pelo Steam obtinha 58%, a Switch 17%, e a PS4+PS5 20% das vendas.

Apesar de tal, o negócio Gamepass revelou-se interessante, cobrindo, tal como já referido, 25% dos custos, isto apesar que, ao contrário do que a Microsoft anuncia, não aumentou minimamente as vendas na consola.

No fundo o resultado foram vendas super fracas conforme os devs referem:

Compounding the issue was an inability to secure future promotions for Furi on Xbox’s storefront for increased awareness, and Haven “didn’t sell at all” on Xbox, outside of its Game Pass partnership.

Curiosamente, no seu jogo de 2016, Furi, o acordo tinha sido realizado com a Playstation, para o seu PSN+.



Aqui, durante a campanha, 78% dos acessos vieram PSN+

Nos restantes acessos o PC tinha cerca de 17%, com 12% do Steam e  cerca de outros 5% a advirem de outros vendedores PC. A Switch terá tido algo como 4%, a PS4 e a Xbox ambas perto dos 2%.

Mas ignorando o Gamepass, o que facilita melhor a percepção das vendas, estas ficaram assim:



Segundo o Dev, o acordo com a Playstation pagou-lhes 1/3 do custo do jogo (33,3%), e as vendas posteriores na PS4 foram 7% do global de vendas.

Isso colocou a Xbox a ser de longe a pior consola a gerar receita, com  5% das vendas.

O concluído por este dev perante isto e o sucedido com Heaven é que as vendas na Xbox não compensam o trabalho e despesa, se não tiverem a muleta do Gamepass.

Daí que com o seu trabalho mais recente, uma atualização para 2022 por DLC do seu jogo de 2016, Fury, este dev decidiu não lançar a mesma na XBox.

Conclusões

O relevante aqui não é perceber-se se a PS vende mais do que a Xbox. E nem é relevante comparar os dois casos de cima entre si.



O relevante é perceber-se que, ao contrário do que acontece com os grandes produtores, os acordos, sejam com a PSN+ ou com o Gamepass são a melhor forma de estes pequenos Indies rentabilizarem os seus jogos. Mas no caso, com a adesão ao Gamepass, o que se viu foi que a PS5 conseguiu ainda assim 20% das vendas. Já quando foi o caso contrário, e se aderiu à PSN+, a Xbox só conseguiu 5% das vendas.

Por outras palavras, perante estes resultados entende este dev que sem a muleta de um serviço, as vendas na Playstation ainda são significativas ao ponto de justificar suportar, mas que o mesmo não se pode dizer da Xbox. E nesse sentido, a Xbox, vendendo tão mal, não justifica ter suporte sem um acordo para o Gamepass, que neste caso não existe.

Este é um caso contrastante com o da People can Fly. No caso de Outriders a maior receita advêm da das vendas, com a presença no Gamepass (ou genericamente, num serviço), a prejudicar as mesmas, e como tal, salvo um pagamento de luxo, a não justificar a adesão. Mas aqui, com os Indies a grande receita advêm da presença no Gamepass (ou genericamente, um, serviço). E isto mostra claramente um contraste de realidades, e como estes serviços se adequam muito bem a Indies, mas muito menos a AAAs.

 



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Eraser
Eraser
23 de Maio de 2022 7:23

O relevante era saber quantas vendas a mais seriam feitas se o jogo não estivesse no gamepass.
Sem esses dados não há conclusões a retirar, só especulações.

E casos de produtores indie a elogiar os serviços? Não há?

Juca
Juca
Responder a  Eraser
23 de Maio de 2022 12:31

Você tem caso anterior onde a depender da plataforma, estar num serviço, diminuiram as vendas em relação ao que se tem noutras plataformas em termos percentuais, logo, há estatística aí, o que é um dado e ciência aplicada a análise das coisas.

Outro fato são os depoimentos, alguns favoráveis outros não, algo que também são fatos, mas é preciso considerar que tudo depende do acordo feito e do custo de cada jogo, pois nem todo jogo indie é feito no fundo do quintal por uma ou duas pessoas, e qualquer coisa é lucro. Muitas vezes ser Indie tem uma interpretação equivocada por parte de alguns.

Heaven – 73% dos acessos no Xbox, 3% das vendas no Xbox e 20% das vendas no PS.

Furi – 78% dos acessos no PS, 7% das vendas no PS e 5% das vendas no Xbox.

Ou seja, o marketshare nas vendas no xbox cairam de 5% pra 3% no título seguinte nas vendas globais do título, e quando na Plus o game da produtora anterior teve 13% a menos share de vendas globais no PS.

Pode se concluir que os serviços prejudicam as vendas? Apesar da pequena amostra, eu diria que sim.
Vale a pela colocar num serviço um jogo? Eu diria que é algo a ser analisado caso a caso. E eu penso que quanto mais custoso um game, provavelmente menos vale por num serviço, mas existem outros pontos a serem considerados.

Last edited 1 ano atrás by Juca
Juca
Juca
23 de Maio de 2022 12:23

(Opinião) Penso que não há dúvidas de que o melhor modelo de lançamento para os indies terem rentabilidade passa por jogo como serviço (sem abusos excessivos, ao estilo Ubisoft, vendendo cosméticos e DLCs) sendo lançado em um serviço de jogos (para ter visibilidade e parte do dinheiro garantido).

O grande dilema/problema que vejo com isso é o quanto um modelo de negócio a ser buscado vai reger a experiência e uma ideia de jogo criativo para se encaixar naquele modelo.

Infelizmente, quanto melhor for um indie, pior será a rentabilidade dele optando serviço de jogos (deixando de vender unidades), a menos que o desenvolvedor esteja atrás apenas de reconhecimento, o que é difícil… mas há loucos pra tudo.

Heaven é um jogo legal, o joguei pela Gamepass, mas dificilmente o teria comprado, assim como Spirit Fahrer que é um bom jogo, então é o complexo se falar de perdas de vendas potenciais quando creio que salvo nos PCs a tendência de gastos dos consumidores são nos “blockbusters” e jogos que têm mais espaço midiático.

Acredito que mais justo pra esses games num serviço seria o de também serem remunerados pelo tempo em que um jogador passa neles.

PS: Mário, e vale lembrar que o Gamepass ainda morde no PC, pois Heaven eu joguei pelo Gamepass no PC.

Last edited 1 ano atrás by Juca
Juca
Juca
Responder a  Mário Armão Ferreira
23 de Maio de 2022 14:12

Concordo com você sobre os vários pontos de vista que você já deu sobre serviços, Mário. Inegavelmente, os serviços disputam pelo tempo e dinheiro do cliente fazendo-o consumir menos, de outras formas, um mesmo tipo e produto.
Penso que é inegável isso, apesar das palas propositais que alguns insistem em usar.

E fora a disputa por tempo e dinheiro dos clientes, também é inegável a diferença de tipo de serviço da Plus hoje (mas parece que vai mudar) e do Gamepass quanto a nocividade que cada um trás para o mercado, já que estar num serviço após esgotado o potencial de vendas e de modo fracionado na quantidade a que se expõe o cliente é muito diferente de aparecer day one, ou mesmo pouco tempo depois do lançamento, em um catálogo já amplo, que leva o cliente a manter expectativas de que sempre terá “novidades” pra jogar em quantidade dimunuindo o dinheiro que injeta no mercado.

Last edited 1 ano atrás by Juca
HENNAN SANTOS CARVALHO
HENNAN SANTOS CARVALHO
23 de Maio de 2022 13:44

Baseado nesse exemplo. Fica claro o que é obvio. O lançamento em um serviço afeta as vendas do game.
Agora o que as pessoas e talvez os desenvolvedores ainda não perceberam é que o que acontece se o serviço se tornar praticamente a única fonte de renda? Será que a Microsoft e a Sony pagarão tanto para colocar o jogo no catálogo ou o dev vai ter que aceitar um contrato ruim, sabendo que seu game não vai vender fora do serviço e compensar essa diferença através de microtransações?

Juca
Juca
Responder a  HENNAN SANTOS CARVALHO
23 de Maio de 2022 13:59

O grande problema dos serviços é justamente esse, matar as vendas e transformar tudo em um catálogo pago de jogos como serviço.
É como ter uma Google Play ou Apple Store onde se paga pra acessar jogos como serviço.

Last edited 1 ano atrás by Juca
Carlos Eduardo
Carlos Eduardo
23 de Maio de 2022 15:04
Juca
Juca
Responder a  Carlos Eduardo
23 de Maio de 2022 15:48

Já pensou se não existisse Led Zeppelin por não valer mais a pena investir num mercado que já não atrai mais tanto gente talentosa, pois circula menos dinheiro? Tudo bem que tem muita coisa descartável, mas é preciso existir incentivos o suficiente para os verdadeiros talentos se aventurarem.

Last edited 1 ano atrás by Juca
Carlos Eduardo
Carlos Eduardo
Responder a  Juca
23 de Maio de 2022 16:46

Exato.

Lembrando que em 1966 os Beatles deixaram de fazer shows e se concentraram apenas em compor e gravar álbuns no estúdio.

Isso seria inimaginável hoje, já que atualmente as bandas ganham dinheiro com as turnês. A esmagadora maioria das bandas recebe uma quantia irrisória do Spotify.

HENNAN SANTOS CARVALHO
HENNAN SANTOS CARVALHO
Responder a  Carlos Eduardo
23 de Maio de 2022 18:40

Minha esperança é que isso não vai acontecer na indústria de games por dois motivos:
1) Consoles são um nicho e como tal tem um alcance limitado, mas um público fiel. Logo acredito que não teremos uma grande adesão. A nova psn vai ser um bom parâmetro.
2) A Microsoft não vai conseguir subsidiar o serviço por tanto tempo. Mesmo que tenha dinheiro para tal, uma hora vão cobrar resultados. Logo terão que aumentar o valor ou então piorar ainda mais a qualidade. O que deve afugentar muitos clientes.
Se estiver enganado, a indústria como conhecemos vai morrer. Logo espero estar certo.

Antonio
Antonio
23 de Maio de 2022 20:36

Para mim serviços como o gamepass fazem lembrar o velho shareware para quem se lembra que até nas revistas eram disponibilizados como um género de fases do jogo….só vejo como positivo ser uma no tra para alguns jogos que até por um euro se podem jogar e experimentar e decidir a compra…e já agora ,para quem dúzia que os jogos são caros e como off…acabei de comprar o ghost of tsushima por 30 euros selado e o watch dogs legion usado por 10 euros ambos ps5…

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