Tal como na geração passada nos quiseram impingir o conceito de que os jogos de jogador único estavam mortos, agora parece-se procurar a morte do físico. E o lançamento de versões digitais das consolas não ajuda a limpar esta ideia.
Os custos dos videojogos estão cada vez mais altos. E com custos surge a cada vez maior necessidade de rentabilização, algo que infelizmente nem todos os jogos conseguem.
Nesse sentido as empresas procuram formas de diminuir custos e maximizar receitas.
Na geração passada isso aconteceu com os jogos de jogador único. Sendo eles que mais tempo de programação e mais atenção requerem, a sua remoção passando a suportar-se os jogos multi jogadores seria uma forma de cortes de despesas.
Mas mais ainda, as empresas acreditavam que uma forma de rentabilizar um jogo com menores vendas passava rentabilização de conteúdo vendido no jogo. E dessa forma, que melhor forma de vender do que para um jogo online onde os jogadores estariam obrigatoriamente capacitados a aceder a uma loja online? Dessa forma seria mais simples vender-lhes DLCs e conteúdo extra, e rentabilizando assim os jogos que no caso de serem offline (o single player online não foi bem aceite por ser considerado um DRM desnecessário e prejudicial ao jogador), ao não terem esse tipo de acessos, teriam basicamente de vender em quantidade sob pena de prejuízos.
E dessa forma houve uma enorme pressão na passagem da ideia de que o futuro era o multi jogador, e que o single player estava basicamente morto.
Nintendo e Sony ignoraram essa historieta, e apostaram forte nos jogos de jogador único. A força foi tal que foram vários os títulos de sucesso que estas marcas colocaram no mercado. E ao contrário do que se dizia, o que se via eram os jogos multi jogador a cair em vendas e os de jogador único a crescerem.
O sucesso desses jogos foi de tal forma que empresas como a EA, uma das empresas que mais apostou no multi, e que mais vendeu essa ideologia, resolveram apostar novamente nos jogos de jogador único e vendo o sucesso de vendas que tiveram, agora querem criar mais do género. Isto aconteceu com o ultimo jogo Star Wars, o Jedi: Fallen Order, a aposta da EA para regresso aos jogos de jogador único e que, devido ao sucesso de vendas a empresa pretende agora tornar num franchising.
E o mesmo aconteceu com a Microsoft. Após uma geração onde os jogos de jogador único se contaram pelas mãos, e a aposta era claramente no online, a empresa veio agora já jurar fidelidade a esses estilo de jogos de jogador único, prometendo-o suportar em força no futuro.
O fim dos jogos de jogador único foi algo extremamente exagerado, e promovido com interesses económicos por detrás. Interesses esses que quando se percebeu que afinal o multi não seria assim tão vantajoso ou a única forma de se ganhar dinheiro, levaram à mudança de opiniões.
Agora a nova moda é o alegar que os jogos físicos estarão mortos em breve. Tudo porque ao custarem os mesmo, os jogos digitais que não possuem despesas de embalagem e distribuição, e nem percentagens da receita a serem retidas por terceiros, eles dão mais lucro.
Ora aqui não discordo desta realidade da mesma forma que discordava da questão dos jogos singleplayer, e vejo mesmo Sony e Microsoft a apostarem na oferta de consolas 100% digitais, o que só contribui ainda mais para esse futuro! Mas a realidade é que, apesar de prever quebras nas vendas dos jogos físicos, não consigo imaginar que eles desapareçam completamente.
É uma realidade que para muitos a comodidade e facilidade da compra digital é grande. E que durante esta fase do Covid 19 houve um crescendo muito grande nesse tipo de vendas. É aliás provável que essa tendência continue e que o digital continue a prosperar.
Mas daí a acabarem com o físico vai uma grande diferença. E como referido, custa-me a acreditar nisso.
Um bom exemplo que suporta a minha ideologia são os DVDs e BDs. Com o grande aumento da procura por serviços de subscrição este tipo de media cada vez vende menos. E isso é uma tendência que já existe à anos!
No entanto, há pessoas para as quais, nada substitui o acto de posse. Eu por exemplo sou uma dessas pessoas! Posso ter um filme disponível no Netflix ou outro serviço qualquer, mas se gosto do que estou a ver… compro! Quero a posse, quero a liberdade de poder ver como, quando e onde quiser, não ficando dependente de disponibilidade, de ligação à net, ou de qualquer outra situação que me possa impedir de ver, ou criar qualquer dificuldade a ver, quer agora, quer no futuro.
Para além do mais, tenho orgulho nas minhas colecções. Gosto de as possuir e gosto de as mostrar. O acto de coleccionar é algo que existe desde sempre, e coleccionar implica algo que o digital não oferece: A posse do físico!
Este tipo de pretensões não é algo anormal. É aliás uma prática bem enraizada em muitas pessoas. E daí que pensar-se que o físico morrerá é, a meu ver, algo utópico. Poderá vir a tornar-se menos comum, e tornar-se um nicho… mas daí a desaparecer… vai um grande passo!
A realidade é que a morte do físico anda a ser profetizada à mais de 10 anos, e também é verdade que o fecho de grandes lojas tem ajudado o digital a crescer. Mas repare-se que mesmo jogos gratuitos como o Apex Legends e o Fortnite possuem versões físicas. E porque? Porque há quem queira o físico e não o dispense. E os produtores sabem disso!
Se há a liberdade de as pessoas escolherem a sua plataforma preferida, porque retirar às pessoas a possibilidade de comprar os seus jogos da forma que mais preferem. Quem compra físico é normalmente mais dedicado do que quem compra digital. Estima e gosta do que adquire, tendo prazer em o possuir.
Diga-se aliás que os casos em que empresas que venderam jogos digitais os tiveram de retirar das suas listas por questões de licenças expiradas e direitos de autor são cada vez mais. Um exemplo é o Angry Birds Star Wars que foi lançado na mesma altura em que foi lançada a actual geração de consolas, e que já não está disponível pois a Disney deu ordens para o “exterminar”.
E lembram-se da PSP Go? A consola 100% digital… É um bom exemplo do que poderá acontecer num futuro digital! E um caso claro de quem provou… e não gostou!
O Digital não é alheio a riscos que o físico não possui. Ambos podem deteriorar-se e perder-se, mas o físico é nosso e mantê-lo só depende de nós. Já o digital… não é tanto assim! E mesmo que o tenhamos no disco e que ele não tenha DRMs ou algo do género, um diferendo qualquer entre os criadores do jogo e uma empresa que resolva exigir direitos sobre algo pode fazer com que pura e simplesmente um dia ao abrirmos o disco o jogo não esteja lá… E isto já aconteceu, dai que não seria novidade.