Shawn Layden – Actual modelo de jogos AAA não é sustentável

O que Layden refere pode ser uma inevitabilidade. A escolha da melhor solução é no entanto um problema.

Shawn Layden tem um passado ligado à Sony, tendo ficado conhecido como Presidente da SIE Wordwide Studios entre 2014 e 2019. E numa entrevista ao Gamesbeat, ele deu a sua opinião sobre o actual modelo de jogos AAA estabelecido na industria.

Segundo ele, o actual modelo de jogos AAA não é sustentável. O problema é que os custos de um jogo AAA variam entre os 80 e os 150 milhões (excluindo custos de marketing), e isso é uma tendência que só se pode agravar no futuro. Isso quer dizer que há um investimento super considerável, e que uma má aceitação do produto no mercado pode levar a elevados prejuízos.

A sua preocupação é com a chegada de uma nova geração, onde estes custos podem duplicar. Segundo ele ninguém pode pensar em aumentar esses custos e imaginar que conseguirá ter crescimento. Daí que ele entende que a industria tem de tirar um momento para pensar: “o que estamos a criar? quais são as expectativas da audiência? qual a melhor forma de passarmos a nossa história, e o que dizer o que queremos dizer?

O problema está acima de tudo na criação de jogos de longa duração que se aguentam por 50 a 60 horas. A necessidade da criação de diversidade obriga a maiores custos de desenvolvimento. E se esta é a expectativa do que se pretende alcançar, isso pode arrumar do mercado alguns criadores. Há que se re-avaliar isso!.”

A forma mais simples é pensar: “E se em vez de gastar 5 anos a fazer um jogo de 80 horas, só gastar 3 anos, e fazer um de 15 horas, como é que esse jogo será? A criação de jogos AAA não vai ficar mais barata, e arte 4K, HDR e mundos totalmente criados de raiz não saem baratos.



Layden refere: “Pessoalmente, como um gamer à antiga… eu agradeceria um regresso aos jogos AAA de 15 horas. Acabaria mais jogos, e tal como uma obra de literatura ou filme, olhar para a disciplina em torno disso poderá dar-nos conteúdo mais convincente e realista.

Naturalmente que Layden tem razão no que refere. Desde à muito tempo que os AAA são obrigados a venderem bem para não darem prejuízo, e o custo crescente dos jogos torna a coisa pior. E encontrar uma solução para isso não é fácil.

Mas a questão é que o que Layden pede é que os clientes paguem o mesmo… por menos. É uma forma algo elegante de não se subir preços, mas no fundo um decréscimo de valor mesmo assim.

Daí que se essa é a solução… não sei!

A realidade é que a criação da PS5 teve esta realidade em conta. A questão da PS5 ser uma consola que os programadores estão a reconhecer como super fácil de se programar e de extrair a performance (aquilo que o Cerny chama de “tempo de triangulo”), não é algo alheio a isso. Basicamente a ideia é permitir diminuir os custos de produção com um hardware que permite obter resultados mais cedo.

A realidade é que a questão da necessidade da produção e redução de custos tem-se reflectido internamente na Sony, algo revelado por Anton Logvinov:



Uma consequência disto foi o já conhecido “Crush” na Naughty Dog que poderá vir a ser uma algo mais comum do que se pensa, e em quase todas as equipas. Aliás o que é dito é que a nova liderança da Sony está a impor indicadores chave de desempenho e prazos que alguns consideram impossíveis.

Naturalmente que a  ideia disto é conseguir aumentar a produtividade sem aumento de custos, tentando manter a os produtos dentro de valores aproximados aos da realidade actual: agora acredita-se é que as consequências disto são nesta fase ainda inócuas, mas que existirão, sendo que só as conheceremos verdadeiramente dentro de alguns anos. E que com isso, dados estes prazos, a era da criatividade pode ter chegado ao fim.

Agora se essa pressão sobre os programadores será o caminho a seguir-se, é algo que se desconhece. O que se pode dizer é que um hardware fácil de programar e equipas que produzam mais no mesmo tempo será uma forma bem mais saudável de se continuar a sustentar este modelo do que o modelo de pressão.

Se tal resultará ou se os jogos AAA passarão a ser um nicho com preços bem superiores, é algo que só o futuro ditará. Mas o certo, e não vamos ignorar isso, é que a concepção da PS5 permite que se produza com qualidade em tempo bastante reduzido, o que poderá ser uma mais valia para a Sony. Mas sobre isso iremos falar melhor e com um exemplo, amanhã.



Não deixa de ser curioso no entanto que se perceba que a Sony, mesmo tendo consciência das dificuldades que atravessa, está a tentar fazer o que pode para manter o actualç modelo. Já a Microsoft aparenta tê-lo abandonado à muito tempo, apostando em jogos mais simples de qualidade Gamepass e futuramente Xclous, com apenas um lançamento esporádico aqui e ali de jogos que podem ser denominados de AAA.



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