Xbox fez cerca de 291 milhões por mês em receita do Gamepass… Isso é muito ou pouco?

Um serviço que rende 291 milhões em receita por mês. É bom ou mau?

Um relatório da Microsoft revela que os utilizadores do Gamepass pagaram em média 9,26 dólares mensais. Com o serviço a ter cerca de 25 milhões de assinantes tal equivale a uma receita mensal de 231.5 milhões.

231 milhões num serviço destes é algo bom ou mau?

Para uma resposta a essa pergunta era necessário saber que percentagem desta receita é lucro, e comparar lucro com lucro. Algo que não conseguimos fazer pois a Microsoft não fornece esse dado.

No entanto há algo que podemos comparar:

O Gamepass possui cerca de 200 jogos (serão mais, mas fiquemos pelos 200).

Todos os jogos que estão no Gamepass, com excepção dos jogos Xbox mais antigos, receberam dinheiro para lá estar. Já do lado de um mercado tradicional não só esse custo não existe, como quem recebe é o detentor da plataforma! 30% do valor de cada transação efetuada por terceiros na sua plataforma!

Resumidamente o que isto quer dizer é que, num caso de igual receita face ao mercado clássico, um serviço como o Gamepass tem menor lucro pois tem de pagar aos produtores dos jogos ali presentes. Ou seja, o nível de despesas para igual receita, está longe de ser igual.

Eis alguma da despesa revelada em documentos de tribunal que a Microsoft teve para colocar alguns jogos no Gamepass:

• Lego Star Wars: The Skywalker Saga: $35 milhões
• Dying Light 2: $50 milhões
• City Skylines 2: Desconhecido
• Red Dead Redemption 2: $5 milhões por mês
• Dragon Ball: The Breakers: $20 milhões
• Just Dance: $5 milhões
• Let’s Sing ABBA: $5 milhões
• Return to Monkey Island: $5 milhões
• Wreckfest 2: $10-$14 milhões
• Baldur’s Gate 3: $5 milhões
• Gotham Knights: $50 milhões
• Assassin’s Creed Mirage: $100 milhões
• Suicide Squad: Kill the Justice League: $250 milhões
• Star Wars Jedi: Survivor: $300 milhões
• Mortal Kombat 1: $250 milhões
• Grand Theft Auto 5: $12-15 milhões por mês
• Blood Runner: $5 milhões
• Net Crisis Glitch Busters: $5 milhões

No tocante aos jogos First Party, um mercado clássico gera 80 euros de receita adicional por cada cópia vendida. Já com um Gamepass e os jogos Day One, o valor gerado não se altera e mantem-se igual ao gerado pelos pagamentos da mensalidade do Gamepass. Por outras palavras, a receita poderá não ser diferente da que existia antes da colocação do jogo no serviço! Basicamente os exclusivos deixam de ser uma fonte adicional de receita, para serem uma forma de manter os clientes no Gamepass, ou tentar subir os mesmos, e consequentemente as receitas.

Ora uma compra de um jogo A ou jogo B, pode levar a que quem os adquiriu não compre o jogo C ou o D. E isto por dois motivos, o custo adicional, e o facto de o seu tempo livre estar já tomado com um ou dois jogos.

Mas no Gamepass a coisa é pior. Se é verdade que aceder a outro jogo não traz qualquer custo, o certo é que há sempre oferta já incluída no pagamento para ocupar o utilizador. E consequentemente este não sente a mesma necessidade de adquirir um jogo fora do serviço que sente quem não tem tal serviço.

Assim sendo, a consequência é que as vendas são canibalizadas, e a receita do Gamepass não diz a verdade toda sobre as finanças da consola uma vez que o uso do serviço implica potenciais cortes na fonte de receita que são as vendas.

O que já concluímos então até agora?

• Que uma mesma receita num serviço como o Gamepass face a um mercado de vendas clássico, não se traduz no mesmo lucro.
• Que os exclusivos num serviço como o Gamepass podem não aumentar a receita, e servem apenas para manter ou tentar subir a mesma. Já num mercado clássico, as vendas dos exclusivos são receita adicional.
• Que a receita de um serviço como o Gamepass pode ocultar perdas de receita em vendas, pelo que as Finanças necessitam de ser analisadas como um todo e não apenas a parte para se perceber os reais ganhos… se algum.

Teríamos mais a dizer, mas a realidade é que os nossos receios sobre o futuro que pode trazer um serviço como o Gamepass estão igualmente no interior da Microsoft. As aquisições em massa de grandes estúdios para receitas que, como vemos em cima, acabam por se traduzir em lucros menores que os oferecidos pelo mercado clássico preocupam algumas pessoas dentro da Microsoft que receiam que a coisa acabe em fechos e despedimentos caso estes estúdios não consigam produzir produtos de qualidade numa base regular.

 

First two paragraphs. You think these acquired studios are safe?

Games need to hit on a regular basis to feed Game Pass for the studios to “prove their worth”.

Many of us have tried to warn about the pitfalls of big acquisitions in order to feed Game Pass. pic.twitter.com/jUnYfznYOP

— Reforge Gaming (@ReforgeGaming) September 19, 2023

Os receios sobre a insustentabilidade de um serviço assim existem desde à anos. As receitas existem, mas se estas são compensatórias face a outros prejuízos inerentes é um questão que está por responder. O certo é que a despesa com tanto estúdio tem de ser paga, e 231 milhões mensais de receita, num serviço onde acabamos de ver que a disparidade entre receita e lucro pode ser gigante, não soa a muito. E o risco de fechos em estúdios é grande!

Mas talvez o maior problema seja um não abordado, que é a fuga de talento devido a receios de perdas de emprego. E se uma equipa vê a coisa mal parada pode ter uma hemorragia de funcionários, acabando por se condenar préviamente.

O aviso a Phil existe. E este tem de ter a consciência da situação. A Microsoft ainda não conseguiu subir receitas, mas pensa em adquirir a Activision por valores recorde, e lá dentro até se fala da Nintendo (algo que não podem adquirir pelos mesmos motivos da Sony, apesar que a proteção governamental à Sony é superior por ser uma empresa de tecnologia, algo que a Nintendo não é).

Phil Spencer conta com o dinheiro da Microsoft, e sem ele a Xbox já estaria condenada à muito. Falta ver se a torneira se mantém, ou se fecha, e caso estes estúdios venham a fechar por falta de lucros, ela fecha certamente. O caminho seguido é de risco e todos sabemos, e os avisos internos já existem. Esperemos é que no processo a Microsoft não arraste a indústria toda consigo.