Peter Hines fala do Gamepass

Peter Hines esteve 24 anos na Bethesda, e inclusive na Microsoft, estando agora reformado.

Dando a sua opinião sobre o Gamepass, Peter Hines mostra que pensa de forma é exatamente igual ao que sempre dissemos.

Assim Peter refere (e peço desculpa pelo palavreado, mas foi exatamente o usado por Peter):

Estou envolvido o suficiente para saber que vi o que considerei ser uma tomada de decisão míope há vários anos, e isso agora parece estar a confirmar-se como eu disse.

Recorda-se que apesar dos elogios iniciais que fizemos ao Gamepass, mal este começou a colocar jogos recentes no serviço e especialmente jogos disponíveis no dia 1, alertamos que o serviço era insustentável, danoso para a indústria, e com uma economia que não fazia sentido pois serviços como o Netflix com conteúdo mais barato de ser produzido, e muitos mais assinantes, davam prejuízo.

Assinaturas se tornaram a nova palavra de quatro letras, certo?

Para quem não percebeu, a palavra é “shit”, ou em português, merda.



Já não se pode comprar um produto. Quando se fala de uma assinatura que depende de conteúdo, se não se descobrir como equilibrar as necessidades do serviço e das pessoas que o administram com as pessoas que fornecem o conteúdo – sem as quais sua assinatura não vale merda nenhuma – então temos aqui um problema real.

Quando Peter diz que já não se pode comprar um produto, ele não está a ser literal. A ideia é que cada vez mais nos são impingidos servicos em detrimento de uma compra real, uma realidade na Microsoft onde os jogos já quase nem saem em formato físico, e a assinatura é vendida como a melhor e mais barata forma de se jogar.

Agora a realidade é que a assinatura precisa de conteúdo, e se o conteúdo lá colocado não der lucro a todas as partes envolvidas e não apenas à Microsoft, o conteúdo cai e o serviço passa a não valer nada, havendo ali um problema.

E isto é uma realidade indelével. O Gamepass, mesmo que possa dar lucro aos produtores, não dá, nem de perto, nem de longe, o lucro que eles teriam com as vendas caso o seu jogo fosse um sucesso. Isto deturpa o mercado, promove os produtos de menor qualidade que se vão safando, e acima de tudo faz a qualidade decair para jogos de consumo rápido e menor qualidade adaptados ao serviço, matando aos poucos uma indústria que alimenta milhões de postos de trabalho.

É preciso reconhecer, compensar e reconhecer adequadamente o que é necessário para criar esse conteúdo e não apenas fazer um jogo, mas um produto. Essa tensão está a prejudicar muitas pessoas, incluindo os próprios criadores de conteúdo, porque eles estão a encaixar-se num ecossistema que não está a valorizar e a recompensar adequadamente o que fazem.

O que Peter Hines refere neste parágrafo é uma realidade, e a única forma de a indústria se aguentar. O problema é que o Gamepass só poderia ter capacidade para isso com centenas de milhões de assinantes. E isto leva-nos à utopia deste serviço pois o mercado provavelmente morreria antes disso acontecer, uma vez que se os atuais compradores aderissem a esse serviço, sem vendas, as grandes produtoras teriam de fechar portas.

O mercado das consolas há já algum tempo que estagnou na casa dos 200 milhões de utilizadores, divididos entre Sony, Microsoft e Nintendo (é uma grande maioria partilhado entre os 3). Ora 200 milhões de assinantes era o que o Netflix tinha quando acabou com as partilhas de contas no seu serviço que produzia series e filmes de 80 milhões.

Isto mostra a utopia do Gamepass, pois ele requeria acabar com toda a concorrência, e mesmo assim não chegaria pois 80 milhões é atualmente o custo de um jogo AA e não AAA. Isto iria requerer abranger mais pessoas, no PC e Smartphones.



O problema disso é que alcançar mais mercados obriga a maior custo. Ao contrário dos filmes, que reproduzem em qualquer sítio, plataformas diferentes, tem hardware e software diferente, obrigando a reprogramar e de optimizar o jogo. Isto trás custos! E note-se que, segundo as estatísticas do Steam, a maior parte do mercado PC tem hardware com capacidade inferior às consolas, o que coloca a questão da plataforma base ter de ser ajustada, obrigando a complexidade dos jogos a decair para se ajustar à mesma, caso se queira aumentar o mercado.

É devido a isso que a Microsoft aposta agora no Xcloud. Mas o Xcloud, apesar de poder passar por cima dessa questão, apenas deve ser um complemento, porque na realidade as pessoas vão sempre preferir o jogo a correr localmente, e acessível como, onde e quando quiserem.

Daí que a aposta da Microsoft no Gamepass e na Xcloud seja um cancro que está a minar a indústria, e algo sobre o qual eu nunca pararei de falar. Pena será, que quando me derem razão, como tem acontecido no passado, poderá já ser tarde demais.



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