FTC ainda pretende bloquear a compra da Activision. E recorreu para tribunal.

Uma decisão do tribunal tem de ser cumprida. Mas os argumentos da FTC são realistas e baseados na lei.

Como referido nas linhas acima, uma decisão do tribunal é para se cumprir. Mas uma das coisas que me deixou bastante confuso no julgamento foi o facto de a Juíza ter pedido à FTC que apresentasse provas mais palpáveis de que a Microsoft teria intenções de causar danos a terceiros.

Esse tipo de pedido soou-me a irrealista e utópico. Como pode alguem provar as intenções de outro? Para isso teria de haver algo premeditado e acesso a documentos privados que, naturalmente, mesmo que existam, a FTC não tem acesso.

E é por esse motivo que as leis Anti Trust não requerem esse tipo de provas, mas sim e apenas a apresentação de argumentos que mostrem que a possibilidade de dano é uma realidade. Uma situação, que dado estarmos a falar do futuro, e como tal, e intenções que até podem nem existir de momento, mas podem surgir no futuro pelo simples facto de haver a possibilidade, nos soa a uma posição realista e de defesa global.

No entanto, não só a Juíza pediu essas provas, que naturalmente não foram apresentadas, como se substituiu à FTC ao dar um parecer sobre a compra, permitindo a mesma.



E essa é uma situação que também chama a atenção pois a entidade legalmente instituída para isso não são os tribunais civis, mas sim a FTC, podendo quando muito estes julgarem a sua decisão à posteriori, a nível de questões e procedimentos legais que possam ter sido mal usados.

E foi exatamente a argumentação acima que a FTC apresentou num recurso, onde pede a anulação do julgamento. Vamos citar:

O apelo da FTC (o resumo de abertura) ao Nono Circuito foi aberto ontem,  com a afirmação da FTC que o julgamento Microsoft, Activision acabou ‘crivado de erros’.

A Comissão Federal de Comércio disse ao Nono Circuito que a decisão do tribunal inferior que se recusou a colocar em pausa a compra da Activision Blizzard pela Microsoft por US$ 68,7 bilhões se encontra “cheia de erros”, dizendo que as questões apresentadas sobre a probabilidade da fusão sufocar a concorrência davam à comissão a justificação para esta poder determinar os méritos do antitruste.

A juíza distrital dos EUA, Jacqueline Scott Corley, errou no mês passado ao negar à FTC o pedido para bloquear temporariamente o acordo, disse a comissão ao tribunal de recurso em um documento de abertura redigido que foi aberto na segunda-feira, dizendo que a juiza aplicou o padrão errado sob a Lei da FTC, que autoriza medida cautelar preliminar quando a comissão “levanta questões sérias e substanciais sobre os méritos antitruste”.

“Aqui, a FTC apresentou evidências convincentes de que a fusão tem a probabilidade razoável de diminuir substancialmente a concorrência em vários mercados relevantes – mais do que cumprir o padrão legal”, disse a comissão, observando que só é necessário levantar “questões substanciais sobre os méritos antitruste. Mas não estabelecer os méritos em si.”

Mas em vez de aplicar o padrão de liminar, a Juiza Corley aplicou o padrão de mérito final, que exige demonstrar a probabilidade de que a fusão diminuirá substancialmente a concorrência, de acordo com a sentença.

A comissão refere ter apresentado evidências significativas de que a fusão da Microsoft com a Activision pode diminuir a concorrência, dizendo que provavelmente aumentaria a posição já dominante da Microsoft nos mercados de assinatura e jogos em nuvem e provavelmente impediria uma maior colaboração entre a Activision e outros fornecedores de plataforma, impedindo a inovação que leva a benefícios para o consumidor.

“Este erro jurídico infectou a análise do tribunal distrital em múltiplos aspectos e levou indevidamente o tribunal a negar a tutela preliminar”, disse a FTC.

Ainda no seu resumo de abertura divulgado na segunda-feira, a FTC disse que a juiza Corley “cometeu um erro jurídico fundamental” ao analisar os mercados de serviços e consoles de jogos em nuvem ao confiar erroneamente nos acordos paralelos da Microsoft com terceiros para levar Call of Duty a seus rivais, como o Nintendo Switch.

“A elaboração ou aceitação de qualquer solução deveria ter sido deixada para o processo de mérito perante a FTC, uma agência designada pelo Congresso para servir como um órgão especializado nas soluções apropriadas para violações da lei antitruste”, disse a comissão. “O tribunal não deveria ter usurpado esse papel, muito menos com um registo parcial e ao mesmo tempo que se apressava a emitir uma decisão por causa de um cronograma artificialmente ‘comprimido’.



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Juca
Juca
5 de Setembro de 2023 11:29

Deviam deixar de mão a MS, ela tá precisada… E depois que viriam outros grandes e poderiam salvar o resto da indústria…

Sparrow81
Sparrow81
5 de Setembro de 2023 12:46
Andrio
Andrio
Responder a  Sparrow81
5 de Setembro de 2023 13:02

acabei de ver, e olha ai o motivo deles n ganharam acesso antes kkkkk

Tiohildo
Tiohildo
5 de Setembro de 2023 14:20

Off
Mario, ontem no direct da DF, eles explicaram a situação da distribuição de chaves do Starfield para a eurogamer e a DF. O que você achou da explicação no contexto daquela polêmica que você relatou em um de seus comentários de um artigo anterior ?

Paulo Yutaka Toyoshima Girata
Paulo Yutaka Toyoshima Girata
5 de Setembro de 2023 14:52

Esse é um ponto que achei estranho, Mário. Não entendo muito de legislação mas, para mim, não faz sentido uma única pessoa (juíza, no caso) decidir pela aprovação de um negócio entre corporações, que, por sua vez, envolve centenas, talvez milhares de pessoas. Se for assim, qual o intuito de haver um órgão enorme como a FTC se, no fim das contas, a decisão fica a cargo de uma única pessoa?

Hennan
Hennan
5 de Setembro de 2023 19:26

Off: Independente da qualidade, o jogo foi um sucesso.
PlayTracker on X: “Based on our user sampling data so far, PlayTracker estimates #Starfield has far surpassed the 1M player milestone on both Steam and XBOX with just the Premium Edition buyers. Sampling data comes in slowly, with a delay. Full launch is tomorrow, we’ll be watching the fireworks. https://t.co/t9t3J7olbD” / X (twitter.com)

Uma pena que vai passar uma péssima mensagem. Em pouco tempo pagar mais caro para jogar no lançamento será o padrão. E o que hoje é uma semana, pode muito bem aumentar para um mês.

Hennan
Hennan
Responder a  Mário Armão Ferreira
5 de Setembro de 2023 20:36

Hoje o marketing é o departamento mais importante de uma desenvolvedora. Só lembrar que a CDPR vendeu quase 10 milhões de unidades na pré-venda de Cyberpunk. Minha maior crítica é como o estado inicial dos jogos e as práticas das empresas vem piorando com o tempo.
Em relação as notas, faz tempo que não existe critério. Independente de quanto goste de um jogo, existe parâmetros específicos que não são subjetivos. A baixa resolução, as quedas de FPS, o shimering do FSR, o excesso de loading, a falta de HDR e a péssima UI já são o suficiente para questionar qualquer nota acima de 9. Outra coisa engraçada é ver a versão do PC com avaliação tão positiva. Visto que apenas as 4 GPUs de topo tem performance minimamente aceitável.

Andrio
Andrio
Responder a  Hennan
5 de Setembro de 2023 23:03

Esse é o meu ponto também. Aí tu vai comentar algo sobre esse jogo e escuta: “só fala de gráfico, parte técnica”

Se for pra nivelar por baixo espero q os próximos jogos também não sejam cobrados assim como starfield não está sendo por várias pessoas.

Livio
Livio
Responder a  Hennan
5 de Setembro de 2023 20:29

Pois é e isso apoiado por aqueles que dizem que a marca do seu plástico é pró-consumidor.

Foi o mesmo com online pago…
Foi o mesmo com DLC….
Foi o mesmo com DRM….
Fique de olho na questão das publicidades…

Tudo isso teve apoio inicial de uma certa amiga do consumidor.

Hennan
Hennan
Responder a  Livio
5 de Setembro de 2023 20:40

É impressionante como o público sempre releva essas coisas. Mas para quem reclama de pagar 70 dólares, agora temos a opção de pagar 100. Esse filme já vi antes e não tem final feliz.

Deto
Deto
Responder a  Hennan
5 de Setembro de 2023 20:31

Não quer dizer tanto assim, talvez queira dizer que todo mundo que iria comprar já comprou agora

A partir de amanhã é todo mundo o GP

E sobre o teu último parágrafo… Pode apostar que todos os jogos que a MS puder lançar assim, com “lançamento antecipado” para quem pagar mais na compra, além do preço normal e não somente o GP, vai ter isso.

A mim não importa, quem vai sofrer mesmo com esse modelo ai é os caixistas fanáticos pelo GP.

Duvido que a Sony implemente algo desse tipo.

Deto
Deto
Responder a  Deto
6 de Setembro de 2023 1:02

só um adendo, como funciona o sistema de Refund do STEAM?

Pq daqui a pouco o sujeito compra a premium edition no steam, joga e pede refund para ir jogar no GP depois.

Livio
Livio
Responder a  Deto
6 de Setembro de 2023 14:03

Acho que tem um vídeo onde o streamer faz isso

Valdir
Valdir
6 de Setembro de 2023 0:20

Procurei e não achei nada a respeito disso. Onde foi obtida essa informação?

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