Michael Pachter – Gamepass vai destruir a Sony. A Sony vai deixar de existir

Michael Pachter continua a ser Michael Pachter… Mas não deixa de ter razão que o risco existe.

Se há analista de mercado que se mete em tudo que é consolas é Michael Pachter… E o seu histórico de previsões é de tal maneira ridículo que se segundo ele, nem a Playstation, nem a Switch existiram agora. E isso porque tanto Sony como Nintendo estariam na falência.

Nesse sentido, esta opinião de Pachter é apenas mais uma das suas previsões. Mais uma que certamente ficará para a história como uma das suas patacoadas habituais. E desta vez num programa apresentado pelo “Dealer”, um dos maiores fanboys conhecidos da Xbox, pelo que não seria de esperar que a conversa pudesse seguir outro sentido.

No entanto, apesar que o que Pachter refere não se escreve, o a preocupação em que  ele toca, alegando que daqui a 10 anos a Sony não existirá, é realmente uma preocupação, não para a Sony como empresa, mas para a Playstation.

Mas é um preocupação por motivos diferentes do que possam estar a pensar. Vamos ver então o que há aqui.

Porque motivo uma empresa que é líder de mercado, que possui dos IPs de maior qualidade e mais apetecíveis do mercado, iria desaparecer?

Que ele referisse que a Microsoft iria tomar a liderança era uma coisa, mas a sua frase passa pelo desaparecimento da Sony, e não pelo perder a liderança de mercado.

O que poderia levar a isso?

A Microsoft atualmente tem mais IPs? Tem!

Tem IPs de grande sucesso? Tem!

A Microsoft tem mais equipas? Tem!

Mas mesmo isso sendo verdade, será que um TLOU, um GOD OF WAR, um SPIDERMAN, um UNCHARTED, irão deixar pura e simplesmente de vender? E será que os estúdios da Sony, apesar de serem menos, não se podem aguentar? Uma Konami não se aguenta face a uma Activision? Porque haveria a Sony de não se aguentar

Claro que não! Caso a compra da Activision se concretize, a Microsoft mesmo assim não passaria a ser a empresa com mais receitas do sector das consolas, um argumento que eles mesmos tem usado junto dos reguladores para aprovarem a compra.

O que poderia então desequilibrar a coisa?

O Gamepass!

Sim, o Gamepass… Que poderá ser expandido para Xcloud para streaming dos mesmos jogos.

O Gamepass é um serviço que dificilmente será lucrativo para a Microsoft. O serviço que juntamente com o PSNow, O PSN Plus, o Live Gold, e o Nintendo Online geram 19% das receitas criadas pelas consolas, e que como tal está longe de ser algo marcante a nível de receitas.

Mas a Sony não pode ter um serviço de subscrição? Pode, claro que pode! Aliás empresas bem mais pequenas que a Sony possuem serviços de subscrição de jogos. A própria Sony tem o seu, o PSNow.

Mas o Gamepass vai muito mais longe que um mero serviço de subscrição ao incluir os exclusivos Microsoft no dia um, bem como outros títulos de terceiros. E se tornar um serviço de subscrição rentável já pode ser complexo, um nestes moldes muito pior, sendo que ele só pode ser rentável com uma base de clientes fixa muito grande. Uma base que para ser criada de forma sustentável tem de obrigar ao fornecimento regular de muitos jogos. E cada a necessidade de quantidade, o que sofre acaba por ser a qualidade e a necessidade de produção destes jogos a um custo inferior, obrigando a jogos como serviço, jogos mu!tijogador com transações, IPs de fácil reciclagem e lançados de forma regular com cara lavada, etc. E isto porque perante um serviço em crescimento, e com necessidade de quantidade não é possível que a maior parte do oferecido sejam jogos AAA, cujo custo de produção é de centenas de milhões de euros, e que seriam depois colocados num serviço ao preço da “uva mijona”.

Ora o grande problema do Gamepass é que ele consegue superar um pouco essas limitações, pelo simples facto de estar a ser financiado. Basicamente o serviço dar muito ou pouco lucro, ou mesmo prejuízo é irrelevante para a Microsoft, que como ela mesmo refere, está “all in” nesta aposta. Ela aposta nele como o futuro, e como uma forma de dominar o mercado, colocando uma oferta a um nível que, pelo custo e baixa rentabilidade, é pura e simplesmente impossível de ser acompanhado pela concorrência (isto apesar de ser esperada uma resposta com uma oferta mais concorrencial).

Basicamente, caso a coisa continue assim, e a Microsoft continue a esbanjar milhões e adquirir grandes empresas, este é um risco real. E uma situação que os reguladores necessitam de verificar como legítima.

Acima de tudo, penso que esta forma de pensar de Michael Pachter deve servir como alerta para os reguladores e para aquilo que eles podem estar a autorizar. O Gamepass pode esmagar a concorrência, mas um Gamepass com IPs de sucesso como os da Activision, pode fazer muito mais dano. E a Microsoft pode-se impor no mercado não pela qualidade do seu produto, ou pela realidade dos preços aplicados, mas porque é a empresa que mais dinheiro tem e mais dinheiro pode perder para conquistar um mercado.

O problema de um monopólio desse género é que tal depois colocaria a Microsoft numa posição onde poderia pedir o que quisesse. E isto desfalcando o mercado de outros grandes IPs. Basicamente não seria algo que os fans dos jogos realmente desejavam, mas sim o que lhes seriam impingido à base de preços baixos. E isso é algo que se percebe pelo facto de o Gamepass, mesmo que esteja a aumentar as vendas da Xbox, não está a colocar as vendas da consola da Microsoft num patamar superior.

Mas o maior risco que o Gamepass coloca para a Sony não vem diretamente da Microsoft, mas da espectável crise mundial que se avizinha.

O COVID criou enormes problemas nas empresas, com muitas a ficarem esganadas. Como se tal não fosse suficiente a falta de matérias primas e a crise dos semicondutores está a criar problemas adicionais, e desta vez mesmo aos gigantes (e não falamos só dá tecnologia, mas sim na sua globalidade). As empresas estão com a corda na garganta, e isso vai-se refletir na população, com grandes taxas de desemprego ou falhas nos salários.

Como se tudo isso não bastasse a guerra na Ucrânia está a criar um aumento generalizado do custo de vida. Cereais, trigo, combustíveis, óleo, néon (gás), e muitas mais matérias primas estão em falta pois a Ucrânia era um grande fornecedor. Espera-se que haja repercussão directa nos preços de muitos produtos pela diminuição da oferta), que a crise dos semicondutores se agrave (o néon é usado para afinar os lasers usados na produção de microchips), e que haja subidas indirectas de custos (pela subida dos combustíveis, que afetará tudo).

A realidade é que o estourar de uma crise mundial é algo expectável e bem real. E esta guerra não está a ajudar. E com ela, jogos a 80 euros serão incomportáveis para muitos e menos desejáveis para outros, sendo que uma oferta estilo Gamepass será cada vez mais super atrativa.

Mas não se enganem. Mesmo o Gamepass vai sofrer pois este requer utilizadores pagantes mensais, e isso obriga a pagar 180 euros anuais para o serviço, algo que cada vez menos deverá acontecer, com as pessoas a aderirem apenas quando precisam e cancelando depois.

Basicamente o serviço, tal como tudo, deverá ter quedas na adesão. Mas a questão é que certamente um serviço de subscrição sofrerá menos que as vendas a 80 euros, mesmo sofrendo quebras quer em qualidade, quer em quantidade no seu conteúdo.

Esperando-se assim que o mercado dos videojogos, como todos os outros, venha a sofrer, torna-se urgente que a Sony pondere um serviço igualmente competitivo a nível de custos, e o lance o quanto antes. Pois caso não o faça, apesar que não pelos motivos que Pachter está a pensar, o Gamepass pode mesmo vir a ameaçar a futura existência da PlayStation.

E infelizmente isso seria terrível para o Gaming, pois um serviço desses impor-se e destruir a concorrência num tempo de crise e de ofertas menores e de menor qualidade, com igualmente menos investimento da Microsoft, levaria a que muito dificilmente no futuroa a qualidade subisse novamente, perdendo-se assim o mercado dos AAA que é o que todos gostamos verdadeiramente.