Scorpio é a consola desejada, mas será a Microsoft a empresa que se espera?

Estivéssemos à uns anos atrás, na era da 360 e esta era uma questão que não se poria. Mas atualmente é necessário colocar-se a questão. Estará a Microsoft à altura de fazer justiça à sua excelente consola, ou será que esta se vai perder num hardware de topo sem suporte?

A Scorpio foi já apresentada e é uma consola que bate todas as expectativas. É uma consola de meio de geração, mas mesmo assim uma consola de topo.

A sua disparidade face ao que a Xbox One pode oferecer é notória, o que pode trazer algo de muito mau ao mercado caso tal se venha a reflectir nos jogos numa geração que, queira-se ou não, ainda é pertença da consola base.

Mas comecemos pelo ponto que nos  interessa nesta fase, a comparação com a PS4 Pro, e aqui, especificações por especificações, a Scorpio bate a consola da Sony em todos os aspectos. Daí que perante uma potência bruta superior, a Scorpio parece destinada a reinar sobre a PS4. Mas será que é mesmo assim?

Bem, é certo que muitos poderão argumentar que a potência foi um dos fatores decisivos do domínio da PS4 sobre a Xbox One, uma potência que agora parece aqui, basicamente na mesma proporção, invertida e a favor da Scorpio face à PS4 Pro.



Mas esta referência não só não é 100% verdade, como neste caso há situações muito especiais em jogo que necessitam de ser contabilizadas.

Para começar, a história demonstra claramente que a performance não é, nem nunca foi o fator principal de vendas, e analisando todas as gerações terminadas até hoje, nunca em nenhuma foi a consola mais potente que vendeu mais. A consola vencedora foi sempre aquela que mais se destacou pelo suporte e pela inovação, mas nunca, mesmo nunca, a mais potente. Algo que caso venha a acontecer nesta geração não pode ser dissociado de uma realidade, o fraco suporte dado pela Microsoft à sua consola Xbox que fica atrás do oferecido a 360 e muito atrás do oferecido pela Sony à sua PS4.

Mas como referido há situações especiais em causa, nomeadamente o facto de estas serem consolas 4K, e de o mercado de TVs 4K ser, na sua globalidade, ainda muito pequeno face aos 1080p.

Ora sendo uma TV 1080 um produto perfeitamente funcional e sem qualquer problema, o investimento numa troca para uma tecnologia que não traz verdadeiramente nada de novo senão um refinamento numa qualidade de image que já consegue ser excelente, não é algo que seja feito de animo leve por todos. Basicamente isto nada tem a ver com a passagem do SD para o HD onde as vantagens eram claras e enormes. É que se ali se passava do mau para o muito excelente, aqui passa-se do excelente para o óptimo, e isso revela-se apenas um refinamento.

Da esquerda para a direita: 4K,Full HD 1080p, HD 720p, SD

Mas não tendo estas consolas jogos exclusivos, a situação piora ainda mais uma vez que as vantagens dos 4K nem sequer são percepcionadas por 92% do mercado que verifica as publicidades, quando muito, a 1080p.



Fica em aberto então apenas a possibilidade de os jogos a 1080p sofrerem melhorias significativas, mas isso é uma situação problemática pois caso a evolução seja superior a pequenas melhorias gráficas, e melhoria dos fotogramas, a disparidade para a base torna-se demasiadamente relevante, criando clara insatisfação em 26 milhões de utilizadores da base que basicamente se sentirão numa geração anterior.

Daí que esta gestão da performance da Scorpio seja algo problemático e algo que necessita de ser lidado com luvas. Apesar da vantagem desta consola para a PS4, a realidade é que esta última se encontra muito melhor posicionada para oferecer as melhorias face à consola base, sem criar na população PS4 um descontentamento face às melhorias que podem ser apresentadas.

Seja como for, a Microsoft define a Scorpio como uma consola Premium, e isso será algo que se deverá refletir no preço. Acreditamos porém que o mesmo não deverá idealmente ser acima dos 450 euros, se bem que há quem refira que duvida que a consola custe menos de 500.

É certo que a Xbox One tambem custou 500 no seu lançamento, mas esse foi um dos claros motivos pelos quais a Xbox One arrancou mal. A consola era mais fraca a nível de potência que a PS4, mas estava inflacionada pela presença do Kinect que nunca teve verdadeiramente qualquer uso. Aqui 500 euros seriam igualmente um valor alto, mas algo muito mais justificável que no caso da One.



Seja como for, perante a realidade do mercado atual da concorrência, com a PS4 Pro a 400 euros e a PS4 a 250 euros, atrair as pessoas da concorrência obrigando-as a pagar mais, terá de ser algo feito com fortes atractivos. Atractivos que passam para além do hardware, mas igualmente por um suporte de jogos que seja, no mínimo, idêntico ao da PS4.

E esse é o maior problema.

Sim, a Xbox One tem grandes títulos exclusivos nesta geração, e os mesmos deverão ver melhorias na Scorpio. Exemplos são Gears of War 4, Sunset Overdrive, Ryse: Son of Rome, Dead Rising 3, Ori and the Blind Forest, Forza Horizon 3, Halo 5: Guardians e Forza Motorsport 6.

Mas não só estes títulos são poucos, como actualmente a fonte dos mesmos secou. O início do ano de 2017 ficou já na historia como o melhor início de ano a nível de suporte de sempre. E isso foi oferecido apenas na Playstation, onde já tivemos jogos exclusivos como Gravity Rush 2, Yakuza 0, Nioh, Nier, Persona 5, e um dos melhores jogos da Sony de sempre, Horizon Zero Dawn.

Do lado da Xbox, como exclusivos, tivemos Halo Wars 2 e Voodoo Vince Remastered..



Infelizmente as coisas não parecem muito melhores daqui para a frente para a Xbox. A Sony tem uma lista enorme de exclusivos anunciados para este ano, mas do lado da Xbox espera-se um possível e ainda por anunciar Forza Motorsport 7 (O terceiro Forza Motorsport a ser lançado na One), e depois Sea of Thieves, Cuphead, e Crackdown 3, mas sempre fazendo a referência necessária que, apesar destes jogos serem esperados para este ano, nenhum deles tem ainda uma data de lançamento oficial, esperando-se, perante o avançar do ano, e continuidade da falta de confirmações, que não sofram o mesmo destino de Scalebound e Fable Legends que foram, sem aviso, cancelados.

Daí que surja a questão. Qual a razão que poderia levar um potencial comprador de PS4 a mudar-se paraa  Scorpio? O preço já vimos que não, e o suporte… parece que muito menos!

Daí aquilo que sempre dissemos, a E3 este ano será essencial, e a Microsoft necessita de anunciar uma carrada de títulos, alguns que possam ainda sair este ano, e outros que saiam logo no início de 2018. Caso isso falhe, a Microsoft falha, e a Scorpio, apesar de ser tão apetecível, poderá ficar-se apenas por isso mesmo.

Infelizmente, nesta fase, se há títulos exclusivos das first party da Microsoft, eles são totalmente desconhecidos, e nem sequer há rumores sobre os mesmos. Restam porém as Second Party, e eventualmente exclusivos comprados a terceiros. E o desinvestimento da Microsoft na E3 também não augura verdadeiramente muito de bom.

Mas isso é algo a ver e uma dúvida que apenas a realização efectiva da E3 irá tirar!



Naturalmente há depois outros argumentos a favor da Scorpio. Tais como o facto de os jogos de terceiros correrem melhor na Scorpio que nas Playstation, mas no entanto este é um argumento que, pelo menos sem mais dados, convence pouco, uma vez que nunca foi queixa generalizada dos possuidores das PS4 a falta de performance das suas consolas, mesmo na consola base.

Acima de tudo o fator limitador aqui é a falta de exclusivos na Scorpio, algo que a Microsoft já referiu numerosas vezes. tal como será lógico, a empresa não pretende hostilizar a sua base, e esta não sendo uma consola de nova geração, não se pode definir pelos exclusivos. Daí que todos os jogos Xbox correrão na Xbox One, e como Phil Spencer deixou bem claro na entrevista ao Gamasutra, quando questionado se não tinha receio de que a One pudesse sofrer com a ideia de se suportar a Scorpio convenientemente, a Microsoft impõem que os jogos sejam feitos para a One e optimizados para a One, sendo que a Scorpio pode melhorar sobre essa base, mas nunca será aceitável que o procedimento seja o contrário, com os jogos a sofrerem cortes na One. A Xbox One é o denominador comum a respeitar.

Naturalmente que aqui as First Party, por uma questão de promoção, serão quem irá tirar mais partido das consolas de meio de geração. As Thirds apenas se preocuparão com um bom jogo nas consolas base, e depois melhorar texturas e resolução para as outras. Afinal as grandes vendas serão na base, e não nas outras consolas, daí que nem sequer lhes interessa hostilizar ou alterar esse mercado.

Há ainda que ser considerado que a Sony irá responder à realidade Scorpio, e isso deverá acontecer com descidas de preço que tornem as suas consolas mais interessante. E com uma Pro a 300 ou 350 euros, e uma PS4 a 200 ou 250, a Scorpio a 500 poderá não ser assim tão atraente como isso.

Depois a Sony temainda uma série de trunfos na mão, como os Bundles! A Sony tem os direitos de Marketing de Destiny 2, Call of Duty: WWII, e Star Wars: Battlefront 2, com pelo menos dois deles a aparecerem na PS4 base e na PS4 Pro. Sim, eles irão aparecer na Scorpio, mas a Microsoft não pode publicitar os jogos e a publicidade irá passar uma imagem de que são exclusivos PS4. É um trunfo para além dos exclusivos que está na mão da Sony.



Não queremos com este artigo dar a entender que a Scorpio está condenada… porque isso não é verdade! A consola é ultra desejável e nada lhe temos a apontar. Mas o artigo pretende mostrar que a simples existência da consola não chega e que a Microsoft tem grandes desafios pela frente face a um adversário que tem superado as expectativas dos seus clientes.

Daí a questão do título. A xbox é a consola desejada, mas será a Microsoft a empresa que se espera? Será que ela estará à altura do que se necessita para que a Scorpio possa ajudar a virar a mesa, ou irá continuar na senda de erros que trilhou com a Xbox One?

 



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