Tal como era esperado, as táticas de EEE da Microsoft parecem ter chegado ao EDGE

As técnicas de Embrace, Extend and Exterminate são algo que já por várias vezes levaram a Microsoft a tribunal, e que já tínhamos previsto poderiam aparecer no Edge.

Ao longo dos anos, por várias vezes vimos a Microsoft a usar as chamadas táticas EEE (Embrace, extend and exterminate), e mesmo a ir a tribunal e ser condenada por elas. E sobre esse assunto escrevemos este artigo em Fevereiro de 2019, e onde já prevíamos que o Edge fosse o próximo produto da Microsoft a ser alvo de tal táctica.

Como sabemos, a Microsoft durante anos e anos tentou desenvolver um browser que lhes assegurasse o domínio desse mercado. No entanto as suas tentativas, com várias versões do Explorer, completamente renovadas de raiz, todas caíram por terra, e a empresa falhou em conseguir apresentar qualquer produto com qualidade suficiente para concorrer com o líder de mercado, o Chrome.

E perante isso, o que a Microsoft faz? Ela entra naquilo que poderia bem ser a primeira etapa de uma táctica EEE, ela abraça (embraçe) o motor Chromium que equipa o Chrome, e cria o seu próprio browser, baseado no motor do browser da Google.

Ora já diz o ditado que, “se não os consegues vencer, junta-te a eles”, e nesse sentido, esta opção parecia ser a melhor para a Microsoft. Mas como diz um outro ditado, “onde há fumo… há fogo”, e tendo a Microsoft um passado de táticas menos corretas que envolvem o EEE, mal isso foi notícia, escrevemos logo que tínhamos o receio que o Chrome viesse a ser o próximo alvo da Microsoft. E isso foi refletido no artigo que linkamos em cima.



E para isso acontecer, para que a Microsoft passasse à segunda etapa da sua tática, o estender ou expandir o seu EDGE face ao Chrome, só era necessário que o Edge ganhasse alguma popularidade.

E isso aconteceu. O Edge é um browser baseado no motor chromium, mas mais recente e como tal mais leve, sendo que nesse aspeto consegue ser tão bom,  ou até mais rápido que o Chrome, e se tomarmos em conta que o Chrome tem tido uma série de pequenos problemas, o Edge ganhou com isso alguma popularidade.

E dessa forma tudo estava no ponto para a fase dois das táticas EEE da Microsoft. Faltava apenas sabermos se elas iriam ou não aparecer!

E eis que aparece a seguinte notícia: “O Edge tem uma novidade que vai deixar o Chrome a quilómetros de distância” – Fonte.

Basicamente, a Microsoft começa a aplicar alterações proprietárias a um motor gratuito e público. Independentemente do que se diga, estas modificações são criadas com um único intuito, o de fazer com que o seu produto supere o original!

Mas será que isso é algo censurável? As empresas não podem melhorar um produto? Bem… sim, e não!



Sim, as empresas podem melhorar e personalizar o seu produto. Por norma geral, até o devem fazer para serem mais competitivas e concorrenciais. A questão é que uma coisa é melhorar um produto, outra é estender o mesmo para áreas onde a Microsoft tem vantagem ou mesmo exclusividade, criando assim uma desigualdade concorrencial para terceiros, e neste caso a própria Google, criadora do motor do Browser. E lendo a notícia, é isso que esta modificação faz! A Microsoft vai preparar o seu Windows 10 de forma a que no arranque ele prepare várias instâncias do Edge, de forma a que ele esteja sempre pronto quando for chamado, arrancando de forma quase imediata e dando assim vantagem sobre o Chrome.

Diga-se que este é o tipo de alteração que não está acessível a todos, e que nem pode estar. Se todos pudessem fazer o mesmo, o Windows ficaria entupido no arranque e com uma enorme quantidade de recursos usados.

Daí que, na nossa perspetiva, este é efetivamente um passo no sentido de a Microsoft estender ou expandir o seu produto de uma forma que a concorrência não pode acompanhar, tentando assim, com um produto seu e do qual tem o monopólio, o windows, ganhar vantagem sobre a concorrência. Concorrência essa que até é quem lhe cede livremente o motor que usam no seu produto.

E se isto não é um passo no sentido da segunda etapa do EEE, sinceramente engana muito, muito bem!

 



 



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Pedro
Pedro
14 de Novembro de 2020 16:39

Por que não tentam simplesmente fazer um concorrente melhor? Foi isso que a Google fez. É algo na mentalidade da empresa, o importante é vencer, não importam os meios.

Pedro
Pedro
Responder a  Mário Armão Ferreira
14 de Novembro de 2020 21:18

Mario, li seu texto, muito interessante,
muitos casos que eu não conhecia. Pensando melhor, se a Microsoft estiver contribuindo no desenvolvimento do Chrome, acho muito interessante sua participação com o Edge. Agora, usar o privilégio de ser a criadora do Windows para criar vantagens injustas para o seu navegador já é a Microsoft sendo Microsoft. Mudaram as cabeças da chefia por lá, mas o pensamento continua o mesmo. Muito me preocupa é a participação crescente da Microsoft no desenvolvimento do Linux. Ainda não sabemos qual é o plano deles.

Finn
Finn
14 de Novembro de 2020 17:55

Seria bem interessante ver essa questão sendo discutida nos tribunais da UE ou na justiça americana. A princípio, mas sem conhecimento técnico a respeito das leis comerciais e concorrenciais, não vejo como concorrência desleal tomar vantagem de um sistema operacional próprio para alguma customização ou otimização, o Safari deve fazer o mesmo e o próprio Chrome nos chromebooks e Android. O Chrome ocupa a primeira posição injustamente há vários anos (atualmente com cerca de 70% dos usuários), mesmo sendo um monstro devorador de memória ram e tendo vários concorrentes melhores.

Hugo
Hugo
14 de Novembro de 2020 19:33

Sinceramente nunca percebi esta conversa do EEE. Então a Apple não optimiza as suas aplicações de acordo com o Hardware?! Eles próprios anunciam isso mesmo na sua última apresentação do M1! A Google não tenta constantemente impedir a utilização de outros browsers com os seus serviços através de mensagens enganadoras acerca de performance cortando inclusivamente funcionalidades em browsers que não o Chrome?! E nos chromebooks, não é feita uma optimização também? Acho que está questão deve ser bem ponderada para que a Microsoft não seja a parente pobre nesta história.

Rodrigo
Rodrigo
16 de Novembro de 2020 15:56

Esse tipo de prática infelizmente é comum nessa indústria. Um exemplo, quando agente abre o Google, o Google maps ou outro com algum navegador que não seja o Chrome, logo de cara aparece uma mensagem: “Baixe o Google Chrome
Experimente um browser mais rápido, seguro e com atualizações automáticas”. Essa também é uma prática de EEE? O Google está se aproveitando por ter de longe o buscador e o aplicativo de mapas mais usados para promover o seu browser, induzindo ao engano inclusive, porque não é verdade que o Chrome é o mais rápido em todas as situações, e o mais seguro. Mas a mensagem afirma que é.

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